A Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), da Polícia Civil do Rio, realiza, nesta quinta-feira, uma operação para cumprir 74 mandados de prisão nas comunidades comunidades Nova Holanda e Parque União, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. A ação acontece no mesmo dia da abertura da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, perto do conjunto de favelas, e que contará com a presença do presidente Lula. Além da Maré, há equipes em outras regiões da capital e da Baixada Fluminense —, além dos estados do Ceará, da Bahia, de Goiás e de Santa Catarina, com o apoio das polícias locais.
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A ação desta quarta é no âmbito da Operação Torniquete e mira um sofisticado esquema criminoso que envolve roubos de cargas e de veículos, receptação qualificada e lavagem de dinheiro. A investigação começou em meados de 2024, após registros de ocorrências indicarem que dois grupos criminosos estruturados e organizados estariam baseados no Parque União e na Nova Holanda. Seus integrantes são vinculados ao Comando Vermelho (CV) e seriam responsáveis por roubos de cargas do estado do Rio de Janeiro.
A DRFC identificou a estrutura desses grupos após a prisão de um de seus integrantes, que relatou a existência de um local na Maré chamado por eles de “escritório”, onde os bandidos se reúnem para planejar os roubos de cargas e posteriores revendas delas. De acordo com o relato, o grupo tem no espaço quatro computadores, onde estão armazenados dados de funcionários das empresas que fornecem informações privilegiadas para a quadrilha e também informações de empresários que receptam as cargas roubadas. Além isso, há no local armamento e bloqueadores de sinais GPS. Os agentes chegaram ao “escritório” nesta quarta.
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Segundo a polícia, os dois chefes desses grupos possuem mandados de prisão em aberto por roubo de cargas.
Cargas vão para Caxias, Alemão, Maré e Manguinhos
A atuação dos grupos responsáveis por roubar as cargas ocorre nas principais vias do Rio. O material é levado para comunidades em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e para os complexos do Alemão, da Maré e de Manguinhos.
As investigações indicam que integrantes do grupo criminoso estariam abrindo empresas de fachada para realizar transações financeiras com receptadores das cargas roubadas, legalizar o patrimônio adquirido com o dinheiro oriundo desses crimes e tentar se esquivar de possíveis apurações policiais. Diante dessas informações, a DRFC solicitou cooperação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e, assim, foi possível descobrir um esquema por meio de movimentações financeiras envolvendo roubadores de carga, seus parentes e empresários que receptavam as cargas.
Bando movimentou R$ 18 milhões
De acordo com dados do Coaf, os criminosos teriam movimentado mais de R$ 18 milhões entre 2022 e 2023. O montante foi obtido com as vendas das cargas roubadas. A Justiça determinou o bloqueio das contas bancárias relacionadas aos investigados até o limite deste valor. Essas movimentações foram feitas entre os integrantes do grupo e empresários que compravam as cargas.
De acordo com as investigações, telefones celulares roubados pela quadrilha eram enviados para o Ceará. O pagamento pelos aparelhos era feito por meio de transferências bancárias feitas diretamente para os responsáveis pelos roubo e seus parentes. Essa mesma dinâmica era realizada com o envio de veículos roubados para a Bahia. Há também indícios de envio de cargas roubadas para Santa Catarina e Goiás.
Moradores lamentam violência
Por causa da operação, duas escolas da rede estadual localizadas na Maré suspenderam as aulas nesta quinta-feira. Por meio de redes sociais, moradores relatam tiros e explosões. Eles lamentam a manhã violenta na região:
“Estava demorando. É só voltarem as aulas que começa. Só Deus para nos guardar”.
“Ninguém merece. E apenas com o segundo dia de aulas para nossas crianças”.
A Clínica da Família (CF) Jeremias Moraes da Silva também suspendeu o funcionamento. Já a CF Diniz Batista dos Santos não realiza atividades externas, como as visitas domiciliares.