A Amazônia brasileira, considerada um dos pulmões ecológicos do mundo, enfrenta uma crise ambiental crescente: a acumulação de resíduos plásticos em seus rios, solos e espécies.
Um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em colaboração com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, realizou a primeira revisão sistemática sobre esse problema no bioma, analisando 52 pesquisas científicas publicadas nas últimas décadas.
Impactos em meios aquáticos, terrestres e humanos
A contaminação afeta a fauna, flora, sedimentos e água, com consequências para a saúde das comunidades ribeirinhas e indígenas.
O estudo identificou a presença de macro, meso, micro e nanoplasticos em vários componentes do ecossistema amazônico. Os resíduos vêm de zonas urbanas, embarcações e comunidades locais, e se deslocam pelos rios que atravessam cidades e fronteiras, gerando uma contaminação transnacional.
“O problema é mais grave do que se estimava”, alertou o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia.
A contaminação por plásticos cresce na Amazônia
De resíduos orgânicos a rios cheios de PET
A mudança nos hábitos de consumo transformou a composição dos resíduos no interior amazônico.
Segundo os pesquisadores do Instituto Mamirauá, os resíduos domésticos na Amazônia costumavam ser principalmente orgânicos.
Hoje, os rios estão invadidos por garrafas plásticas, embalagens e sacolas, que não apenas persistem por séculos, mas também se fragmentam em partículas invisíveis que entram na cadeia alimentar e no corpo humano.
Efeitos ecológicos e sanitários dos plásticos
Desde o emaranhamento de animais até a presença de microplásticos em órgãos humanos.
- Fauna afetada: emaranhados, lesões e asfixia por ingestão de plásticos
- Contaminação de ecossistemas: desde manguezais até cumes remotos
- Alteração de solos e águas subterrâneas
- Micro e nanoplasticos em tecidos humanos, incluindo cérebro e placenta
- Transferência para humanos através do consumo de peixes contaminados
Soluções urgentes antes da COP30
O estudo pede a ampliação da pesquisa e a adoção de medidas concretas antes da cúpula climática na Amazônia.
Às vésperas da COP30, que será realizada em novembro na região amazônica, o relatório propõe:
- Políticas públicas para restringir plásticos desnecessários
- Consciência cidadã e educação ambiental
- Redução do uso de plásticos descartáveis
- Melhoria na reciclagem e gestão de resíduos
Justiça ambiental e regeneração territorial
A poluição plástica na Amazônia não é apenas um problema ecológico, mas também social e cultural.
As comunidades indígenas e ribeirinhas, que dependem diretamente dos rios e florestas, são as mais vulneráveis aos impactos dessa contaminação.
O estudo da Fiocruz e Mamirauá visualiza uma dívida ambiental histórica e pede uma revisão do modelo de consumo e gestão de resíduos em um dos territórios mais vitais para o equilíbrio planetário.
Foto da capa: savingtheamazon