Plantar não é o melhor remédio! Como o ESG pode apoiar o mundo ruralPlantar não é o melhor remédio! Como o ESG pode apoiar o mundo rural

Em tempos de relatórios ESG cada vez mais sofisticados, há empresas que continuam a confundir impacto com a aparência. Plantam árvores como quem cumpre um ritual burocrático: para constar no relatório, para comentar ao investidor, para cumprir o mínimo exigido pelos normativos. Mas plantar, por si só, não é sinônimo de compromisso. E muito menos de transformação.

O estudo recente conduzido pelo FSC França oferece pistas encorajadoras sobre o futuro envolvimento de diversos atores na gestão e restauração da floresta. Os patrocinadores de projetos de restauro ecológico não procuram apenas árvores no chão. Procure projetos com proximidade territorial, coerência estratégica, ligação à cadeia de valor, métricas robustas, validação externa, governança participativa e, acima de tudo, continuidade. Querem saber onde, como, porquê e com que resultados se atua. Exigem relatórios regulares, metodologias claras e impactos sociais e ambientais mensuráveis. Procurem projetos com raízes — não apenas no solo, mas na estratégia da empresa.

E o que encontramos, demasiadas às vezes? Iniciativas apressadas, desconectadas do território, sem qualquer integração com as comunidades locais. Árvores plantadas em massa, sem plano de gestão, sem engenharia que garantem a sobrevivência do povoamento face às mudanças climáticas e à desertificação. Sem acompanhamento técnico, sem monitoramento, sem sequer saber se aquele povoamento resistirá ao próximo verão.

É urgente uma postura proativa de informação, para que a floresta deixe de ser palco de greenwashing, onde o que conta é o número de plantas e não o futuro do ecossistema.

É preciso dizê-lo sem rodeios: plantar não chega. Não proteger chega para regenerar solos, cursos de água, restaurar biodiversidade ou criar valor social. Não chega para responder aos normativos internacionais, que desativam cada vez mais indicadores ESG de impacto real, auditáveis ​​e alinhados com frameworks como os GRI, CDP, SBTi, entre outros. E não chega, sobretudo, a conceber um público cada vez mais atento e exigente.

Num universo mundial de mais de 245.000 empresas que utilizam normativos para reportar indicadores ESG — entre as quais se contam entre 65 e 100 em Portugal — em busca de reconhecimento por investidores, reguladores e sociedade civil, há uma boa notícia: já existem ferramentas no mercado, agentes disponíveis no que permitem fazer diferentes e procurar parceiros credíveis que deêm valor ao trabalho realizado. O que possibilita a integração da gestão florestal com os objetivos estratégicos das empresas. Que ajudem a medir, comunicar e valorizar os serviços de ecossistema — do carbono à biodiversidade, da água à cultura local. Que transformam o restaurante ecológico numa alavanca de confiança, inovação e diferenciação.

Mas isso exige sair da zona de conforto. Exige abandonar a lógica do “cumprir para constar” e do preço mais baixo. Exige abraçar a complexidade do território e o desafio das alterações climáticas. Exija ouvir, adaptar, investir. Exige, em suma, tratar a floresta como um ativo vivo — e não como um adereço de marketing.

No fim do dia, não é a imagem da árvore que importa — é o legado de quem cuida da floresta e transforma o território, as pessoas e o planeta. E as empresas podem — e devem — ser parte ativa deste mundo de mudança.

Engenharia Florestal

Como Crônicas Rurais incidente sobre temas relacionados com o mundo rural, com uma periodicidade semanal. São asseguradas por um grupo de autores relacionados com o setor, que inclui Afonso Bulhão Martins, Cristina Nobre Soares, Filipe Corrêa Figueira, João Madeira, Marisa Costa, Pedro Miguel Santos e Susana Brígido.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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