Uma planta aparentemente inofensiva e amplamente utilizada como adubo verde na agricultura brasileira está no centro de uma crise que preocupa criadores de cavalos em todo o país. A crotalária, conhecida por fixar nitrogênio no solo e melhorar a qualidade das lavouras, foi apontada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) como a responsável por uma contaminação em rações que já provocou a morte de 245 cavalos em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas.
Segundo laudos dos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA), as amostras de ração da Nutratta Nutrição Animal — empresa com fábrica em Itumbiara (GO) — continham monocrotalina, um alcaloide pirrolizidínico extremamente tóxico para equinos. A substância, encontrada em sementes e favas de crotalária, pode causar lesões hepáticas graves (necrose do fígado), danos neurológicos e morte rápida após os primeiros sinais clínicos.
Como a planta se tornou uma ameaça
Embora seja considerada benéfica para o solo, a crotalária se torna perigosa quando atinge o estágio de formação de favas e sementes. A ingestão — direta em pastagens ou indireta, via ração contaminada — pode ser fatal para cavalos, já que as toxinas se acumulam no fígado, músculos e ossos, sendo liberadas gradualmente à medida que o animal se exercita, aumentando a sobrecarga hepática.
“Mesmo em doses muito pequenas, a monocrotalina pode causar danos irreversíveis. Por isso, a legislação proíbe sua presença em rações”, explicou Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária do MAPA.
O Ministério apurou que a Nutratta falhou no controle de matérias-primas, permitindo que resíduos de crotalária entrassem na linha de produção — a primeira ocorrência registrada desse tipo em rações equinas no Brasil.
Medidas e investigações
Em 25 de junho, o MAPA determinou a suspensão cautelar da produção de toda a linha de rações da Nutratta, especialmente as destinadas a equinos. A empresa conseguiu autorização judicial para retomar parte da fabricação voltada a outras espécies (como bovinos e ovinos), mas a proibição para cavalos permanece, e o governo já recorreu da decisão.
Equipes continuam monitorando a coleta de lotes contaminados e analisando possíveis novos focos nos estados da Bahia e Goiás. Enquanto isso, especialistas alertam criadores para verificarem a origem da ração e inspecionarem pastagens, evitando qualquer contato de cavalos com a crotalária, especialmente durante sua fase de floração e frutificação.