Micro e nanoplásticos, invisíveis a olho nu, estão contaminando os sistemas de águas subterrâneas – fontes de quase metade da água potável consumida globalmente. A principal origem desses resíduos está em práticas agrícolas comuns, como o uso de coberturas plásticas (mulches), recipientes de agrotóxicos e sacos de fertilizantes. Essas partículas atravessam as camadas do solo e alcançam os lençóis freáticos, conforme revela uma pesquisa publicada em setembro nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, conduzida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A pesquisa consistiu em uma revisão de mais de 50 artigos científicos publicados entre 2019 e 2024, extraídos das bases de dados Web of Science e ScienceDirect. Os autores priorizaram estudos com alto fator de impacto para garantir a relevância científica e a qualidade das evidências analisadas.
Os resultados reforçam a presença dos resíduos plásticos em ambientes subterrâneos. Para Victor R. Moreira, um dos autores do estudo, é urgente substituir plásticos por materiais biodegradáveis. “Observamos que as partículas menores predominam nas camadas mais profundas, inclusive nos aquíferos. Isso é um grande desafio, pois essas partículas são difíceis de remover”, afirma.
Nanoplásticos: ameaça silenciosa e pouco estudada
Um dos principais achados da pesquisa é que, embora os microplásticos sejam mais estudados, os nanoplásticos são mais prevalentes nas águas subterrâneas. Seu tamanho reduzido facilita a mobilidade no solo, permitindo que eles atinjam regiões profundas dos aquíferos com mais facilidade. No entanto, ainda recebem menos atenção científica.
A mobilidade dessas partículas aumenta os riscos de contaminação, principalmente porque elas podem carregar resíduos tóxicos, como pesticidas. Isso reforça a necessidade de mais estudos sobre os impactos desses poluentes no ambiente e na saúde humana.
Além dos insumos agrícolas, os biossólidos – resíduos orgânicos do tratamento de esgoto usados como fertilizantes – também são apontados como fontes relevantes de contaminação. Embora ricos em nutrientes, esses materiais podem conter microplásticos agregados durante o processo de tratamento, reintroduzindo-os no solo.
Lençóis freáticos sob ameaça: e agora?
Os autores defendem a realização de estudos temporais e espaciais para entender melhor a variação dos níveis de contaminação ao longo do tempo e entre diferentes regiões agrícolas. A proposta inclui investigar a influência de fatores sazonais na presença de plásticos nos aquíferos.
Além disso, estudos laboratoriais serão fundamentais para avaliar a toxicidade das partículas plásticas e seu papel como transportadoras de contaminantes químicos, como agrotóxicos. Esses avanços são essenciais para embasar políticas públicas voltadas à preservação dos recursos hídricos e à segurança alimentar.
Referências da notícia
Agência Bori. Pesquisa mostra contaminação de águas subterrâneas por resíduos plásticos agrícolas. 2025