Contaminação mostra urgência em substituir plástico por materiais biodegradáveis
Apesar de invisíveis, micro e nanoplásticos estão presentes em sistemas de águas subterrâneas, fontes de quase metade da água potável consumida no mundo. Esses materiais são em grande parte provenientes de produtos para agricultura, como as coberturas plásticas (mulches), recipientes de agrotóxicos e sacos de fertilizantes. O tamanho das partículas faz com que elas atravessem as camadas de solo e contaminem os lençóis freáticos. É o que mostra artigo publicado na sexta (5) na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Os pesquisadores fizeram uma revisão de literatura a partir de mais de 50 artigos disponíveis nas bases de dados Web of Science e ScienceDirect e publicados entre 2019 e 2024. Eles usaram combinações de termos relacionadas ao assunto, priorizando artigos de periódicos com fatores de impacto mais altos para garantir a relevância e qualidade das fontes.
Os resultados mostram a quase onipresença dos resíduos plásticos nesses ambientes. Diante desse contexto, Victor R. Moreira, pesquisador da UFMG e um dos autores do estudo, atenta para a importância de substituir plástico por materiais biodegradáveis. “Observamos muitas vezes que as partículas menores predominam nas camadas mais profundas, inclusive nos aquíferos. Isso acaba sendo um desafio maior, porque é mais difícil de remover”, diz Moreira.
A revisão também indica que o estudo de microplásticos é mais frequente do que o de nanoplásticos, embora estas partículas microscópicas sejam mais predominantes em sistemas de água subterrânea. Essa presença se deve ao tamanho menor e, por efeito, maior mobilidade através das camadas do solo.
Na dinâmica de contaminação, os autores também apontam como fonte relevante os biossólidos, que são os resíduos orgânicos provenientes do tratamento do esgoto. Os biossólidos são materiais ricos em matéria orgânica e nutrientes e usados em atividades agrícolas como fertilizantes. “O processo de tratamento de esgoto remove contaminantes, mas muitos deles, incluindo microplásticos, acabam sendo agregados ao lodo por adsorção, e, portanto, reintroduzidos no solo ao aplicar os biossólidos”, explica Moreira.
Para compreender melhor os efeitos dessa contaminação, são necessários estudos temporais com foco na variabilidade sazonal dos micro e nanoplásticos nos sistemas subterrâneos de água, assim como a análise espacial em regiões com significativa produção agrícola, avaliam os pesquisadores. Além disso, próximos passos para investigar o impacto da contaminação envolvem estudos de laboratórios, que podem analisar a toxicidade dos micro e nanoplásticos e seu papel como carregador de agrotóxicos.
Fonte: Agência Bori