Uma pesquisa internacional inédita, realizada em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (Uece), descobriu a presença de contaminantes em camarões no Ceará. Conforme o estudo, tratam-se de compostos químicos sintéticos, conhecidos como PFAs (substâncias perfluoroalquiladas), com maior concentração identificada do tipo selvagem.
Esses compostos são resistentes à água, gordura, calor e manchas e podem ser encontrados em itens usuais como panelas antiaderentes, tecidos impermeáveis e produtos de limpeza.
As substâncias se tornaram motivo de preocupação entre cientistas e autoridades de saúde devido à estrutura química que impede a degradação no meio ambiente.
Segundo o professor da Faculdade de Educação de Crateús (Faec/Uece) e pesquisador Luan Fonsêca, o estudo fez uma comparação entre amostras de camarões selvagens e de cativeiro, tentando descobrir como compostos produzidos pelo homem podem ser absorvidos pelos organismos no meio ambiente e chegar ao corpo humano, além dos possíveis malefícios.
Nessa pesquisa, foi possível identificar a presença de nove desses compostos nas amostras, sendo dois desses derivados de PFAs reportados pela primeira vez no mundo em amostras de camarão. O que sabemos é que se trata de compostos que não são naturais e hoje eles são encontrados em vários lugares no meio ambiente, em todo o mundo
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Pesquisa acende um alerta para o Brasil
O pesquisador diz que o estudo visa detectar essas substâncias em diferentes alimentos, mas o camarão foi o primeiro alvo devido à relevância do crustáceo para a cultura alimentar do Ceará.
Luan Fonsêca destaca que a pesquisa acende um alerta para o Brasil. Conforme a instituição, o levantamento e divulgação de dados oficiais sobre os níveis de contaminação por PFAs em alimentos e na água ainda são precários no País, além da falta de fiscalização das entidades sanitárias.
“É um alerta, principalmente, para serem pensadas políticas públicas, pois hoje nós não temos dados sobre o nível de contaminação por esses compostos na água de consumo ou mesmo nos alimentos. Não há também legislação brasileira clara sobre a concentração de PFAs hoje permitidas em alimentos ou em água e, mais do que isso, nós temos poucos laboratórios com infraestrutura capaz de fazer esse tipo de análise”, assinalou o professor da Uece.
A partir da pesquisa, os cientistas revelaram que devem ampliar a investigação para outras fontes, como a água de abastecimento e fluidos corporais, para rastrear a origem da contaminação e compreender a absorção desses compostos pelo organismo humano.
Hábitos da população e descarte inadequado
Outro ponto destacado no estudo e que traz preocupação aos cientistas é o hábito da população em relação ao uso e descarte de materiais que contêm PFAs, como panelas com revestimento de teflon.
“O descarte inadequado pode levar esses resíduos ao mar, contribuindo para a contaminação da fauna marinha — e, por consequência, de quem consome esses animais”, alertou a Uece.
O professor, no entanto, esclarece que as concentrações desses compostos nas amostras de camarões são “muito pequenas” e que o consumo moderado do crustáceo não é considerado um risco real, mas um “alerta para o futuro”.
A pesquisa, nomeada “Comparison study of PFAS in farmed and wild shrimps from Brazil. Are wild shrimps less contaminated than farmed shrimps?”, foi publicado na revista internacional especializada em composição de alimentos “Journal of Food Composition and Analysis”. O estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Uece, Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com colaboração da Universidade de Graz/Áustria, Instituto James Hutton/Reino Unido e Universidade de KwaZulu-Natal/África do Sul.