Em um artigo publicado no periódico Chemosphere, pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp) descrevem o achado de substâncias pesticidas, algumas delas de uso proibido no Brasil e em países da União Europeia, em amostras de água da chuva de três cidades do estado de São Paulo.

De acordo com o artigo, foram analisados 14 pesticidas e 5 produtos de degradação (substâncias químicas resultantes da quebra de compostos pesticidas originais, geralmente transportados pela chuva ou infiltrados no solo) na água da chuva das cidades paulistas, em concentrações que variam de 0,1 a 596 ng/L (nanograma por litro).

As análises revelaram herbicidas, fungicidas, inseticidas e outras substâncias de degradação do solo, e 100% das amostras avaliadas continham atrazina e tebuconazol, um herbicida e um fungicida, ambos utilizados em plantações de milho e cana-de-açúcar no Brasil.

A atrazina, associada a efeitos endócrinos prejudiciais em seres humanos e animais, é proibida para uso na UE desde 2004, principalmente devido ao seu potencial de contaminação do lençol freático. No Brasil, entretanto, continua a ser um dos pesticidas mais utilizados em culturas de soja, milho e cana.

Um projeto de lei (PL 5080/23), em análise na Câmara dos Deputados, quer proibir o uso de agrotóxicos que contenham o princípio ativo da atrazina em todo o território nacional.

Já o tebuconazol, também identificado como um potencial disruptor endócrino, é identificado pela Anvisa como classe III (isto é, definido como medicamento tóxico), e amplamente utilizado como defensivo na agricultura orgânica.

Ambos têm impacto nas águas superficiais.

De acordo com a pesquisa coordenada por pesquisadores da Unicamp, a “soma dos fluxos de deposição úmida de pesticidas em São Paulo (de 223 microgramas por metro quadrado) foi cerca de 3 vezes menor do que nas outras cidades com baixa densidade populacional e maior atividade agrícola”, como são os casos de Brotas (em que a concentração encontrada foi de 680 microgramas/m²) e de Campinas (com 701 microgramas/m²), as duas outras cidades analisadas pela pesquisa.

Os resultados da análise apontaram que, das substâncias encontradas na água da chuva das três cidades, três inseticidas e dois produtos de degradação de inseticidas tinham quociente de risco maior do que 1, o que indica que “a água da chuva, por si só, é uma fonte de contaminação por pesticidas”, e que “a água da chuva para fins potáveis deve considerar a contaminação potencial [por pesticidas]”.

A contaminação da água da chuva ocorre quando as partículas dos tóxicos, lançadas à atmosfera, aderem às partículas atmosféricas e são, então, transportadas por diferentes regiões pela água formada pela chuva.

O estudo ainda identificou, em cerca de 88% das amostras analisadas, a presença do pesticida carbendazim, banido para uso no Brasil desde 2022, e do 2,4-D (proibido no Brasil desde 2023), que teve concentrações maiores na cidade de Brotas.

Em estudos realizados desde 2014 pela pesquisadora Ana Carolina Panis, bioquímica e professora visitante na Universidade de Harvard, pesticidas como o 2,4-D diclorofenoxiacético e a atrazina têm mostrado associação com o desenvolvimento de câncer de mama em mulheres que entram em contato direto com as substâncias.

Entre mulheres expostas ao químico, além de um maior risco de desenvolvimento de câncer, costuma haver também uma manifestação mais agressiva da doença, com maiores riscos de metástase e menor chance de sobrevida.

Leia também: Exposição a agrotóxicos e tipo de câncer comum têm ligação direta, diz estudo conduzido no Brasil | Revista Fórum

Outra substância encontrada nas análises, o fipronil, usado como inseticida sistêmico em culturas de milho, arroz, algodão, soja e cana-de-açúcar, é proibida na União Europeia e nos Estados Unidos por sua toxicidade para abelhas, que ocorre tanto por contato direto como por contaminação via pólen e néctar, além de ser tóxico para a vida aquática.

No Brasil, o uso de fipronil segue autorizado e tem apenas restrições específicas quanto ao modo de aplicação e às culturas.

Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *