Pescadores que atuam na Baía de Guanabara têm índices mais altos de mercúrio no sangue do que outros grupos da população.

Esta é uma das revelações de um estudo conduzido na Universidade Federal Fluminense (UFF), que mediu os níveis de contaminação em oito espécies de peixes da baía e também avaliou a exposição humana por meio de amostras de cabelo de pescadores da Ilha do Governador, Magé e Itaboraí.

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Mercúrio nos peixes

A pesquisa, desenvolvida pelo mestrando Bruno Soares Toledo, do Programa de Pós-Graduação em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal, revelou variações expressivas entre as espécies analisadas.

O robalo apresentou os maiores níveis de mercúrio total (HgT), enquanto a sardinha-verdadeira registrou os menores valores. Apesar dessas diferenças, de acordo com Bruno Toledo, nenhuma das espécies ultrapassou os limites estabelecidos pela legislação brasileira.

— Os valores encontrados na minha pesquisa estão dentro do estabelecido pela legislação. Nenhuma espécie ultrapassou os limites. A nossa preocupação é entender quais peixes estão sendo consumidos e com que frequência, porque isso pode representar maior risco — explicou o pesquisador ao A Seguir: Niterói.

Pescadores expostos

O estudo também investigou a exposição humana ao contaminante, analisando amostras de cabelo de 126 pescadores das colônias que atuam na baía. Segundo Bruno Toledo, oito voluntários apresentaram níveis acima do limite considerado seguro por órgãos internacionais, como a ONU.

— Os principais riscos estão associados a doenças multifatoriais da contemporaneidade, como Alzheimer, Parkinson, distúrbios endócrinos e cardiovasculares. A exposição crônica ao mercúrio pode provocar alterações em órgãos e tecidos — detalha o pesquisador.

Ao avaliar o panorama geral dos pescadores, Bruno classifica o índice encontrado como um sinal de alerta a longo prazo.

— Não é que os peixes não possam ser consumidos, mas é necessário que haja uma rotatividade entre as espécies consumidas. O mercúrio é um contaminante químico que não é eliminado do nosso sistema biológico, então quanto maior a frequência e o consumo de espécies com níveis maiores de mercúrio, maior será o acúmulo e a exposição dessas pessoas — afirma.

Ele reforça que o objetivo do estudo não é afastar pescadores e moradores do consumo de pescado.

— Nosso intuito não é fazer com que eles parem de consumir os peixes da Baía. Pelo contrário, queremos que haja um consumo consciente sobre a presença de mercúrio e possivelmente outros contaminantes.

Eles correm risco?

Segundo o pesquisador, o risco existe, mas está associado principalmente à exposição contínua.

— O risco existe sim, mas a longo prazo. A exposição crônica ao mercúrio, mesmo que em pequenas quantidades, não tem uma causa e efeito imediato — explica.

Os pescadores, no entanto, são o grupo mais vulnerável.

— Eles e suas famílias têm o maior consumo de peixes entre a população que vive no entorno da baía. Quanto maior o consumo, maior será a exposição ao mercúrio.

Por que algumas espécies acumulam mais?

As diferenças encontradas entre robalo e sardinha têm explicação na ecologia de cada espécie. O robalo, maior e predador, está mais sujeito à bioacumulação e biomagnificação do metal ao longo da cadeia alimentar.

— O robalo é um peixe predador, então precisamos considerar esse acúmulo ao longo da cadeia. Além disso, o tamanho dos peixes é extremamente relevante. As sardinhas capturadas eram menores, enquanto os robalos eram maiores, o que influencia diretamente os níveis encontrados — explicou Bruno.

Consumo seguro

Mesmo com registros de contaminação, o pesquisador reforça que o consumo de peixes da baía é considerado seguro, desde que as autoridades ambientais mantenham um acompanhamento constante.

— Os peixes capturados na Baía de Guanabara podem ser consumidos de forma segura. No entanto, é essencial que os órgãos responsáveis monitorem e que nós, como pesquisadores, tenhamos subsídios para avaliar a presença de mercúrio e outros contaminantes — afirma.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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