No litoral sul do estado de Alagoas, no Brasil, em um entorno onde a água doce se mistura com a salobra, a lagoa de Jequiá é o coração da vida comunitária. Ali, entre redes de pesca, barcos artesanais e uma forte tradição local, Eliane Faria de Souza mobiliza mais de 50 mulheres que transformam resíduos poluentes em fertilizante orgânico. O feito converteu a sua comunidade em um modelo regional de empreendimento ambiental, sendo reconhecida como uma das Líderes da Ruralidade das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A pescadora brasileira receberá o prêmio “Alma da Ruralidade”, distinção criada pelo organismo internacional especializado em desenvolvimento agrícola para dar visibilidade às pessoas que fazem a diferença em prol da vida no campo do continente americano.
Eliane e suas companheiras produzem fertilizante, artesanatos com materiais reciclados, coletam óleo usado para fabricar sabão, desenvolvem atividades de turismo de base comunitária e organizam jornadas de limpeza da lagoa, fomentando a educação ambiental.
Eliane é Presidente da Associação Mulheres em Ação de Jequiá da Praia (AMAJE), uma organização que reúne cerca de cinquenta pescadoras, marisqueiras e artesãs. O grupo foi formalizado em 2022, embora seu trabalho conjunto tenha começado alguns anos antes. “Começamos como um grupo de mulheres rurais, com muita vontade de fazer algo por nossa comunidade”, recorda. “Com o tempo, e muito esforço — acrescenta —, conseguimos registrar a associação, o que nos abriu muitas portas”.
A AMAJE nasceu do desejo das mulheres de ter um papel mais ativo em seu entorno. Com apoio da Reserva Extrativista Marinha da Lagoa de Jequiá (RESEX) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), começaram a se organizar para participar de capacitações, ações ambientais e projetos de reciclagem. Um dos principais desafios que enfrentavam era a contaminação da lagoa, especialmente pelos restos do caranguejo ou siri, muito presente na pesca local. As cascas descartadas se acumulavam nas margens, afetando tanto o ambiente como a saúde das famílias.
A resposta foi criativa e contundente: com as cascas dos caranguejos, começaram a produzir fertilizante orgânico. “A lagoa estava se contaminando com os resíduos que os pescadores despejavam, e isso prejudicava o ecossistema”, recorda Eliane. Com a ajuda de várias organizações, “aprendemos a transformar esses resíduos em adubo e, assim, obtivemos algo que beneficia tanto o ambiente como a nossa economia”. O projeto foi um sucesso, gerando uma nova fonte de renda para as mulheres e posicionando a AMAJE como referência na região.
Mas o trabalho de Eliane e suas companheiras não parou por aí. Além do fertilizante, elas produzem artesanatos com materiais reciclados, coletam óleo usado para fabricar sabão e desenvolvem atividades de turismo de base comunitária. Também organizam jornadas de limpeza da lagoa, promovem a coleta de lixo e fomentam a educação ambiental. “Queremos ensinar as pessoas que é possível viver em harmonia com a natureza, sem destruí-la”, afirma.
O trabalho de AMAJE foi premiado com o primeiro lugar na primeira edição do prêmio Mulheres Rurais — Espanha Reconhece, criado e apoiado por organismos internacionais, entre eles o IICA.
Redação/Assessoria