As duas explosões registaram-se pouco antes da entrada em vigor de uma trégua com o Paquistão, com o objetivo de restaurar a calma.
“Começámos a receber ambulâncias cheias de feridos e soubemos que houve explosões a poucos quilómetros do nosso hospital”, declarou Dejan Panic, diretor da ONG no Afeganistão, num comunicado. “Chegaram 40 pessoas, entre as quais mulheres e crianças. (…) Infelizmente, cinco pessoas já estavam mortas à chegada”, precisou.
Antes da instauração do cessar-fogo, Cabul e Islamabad acusaram-se mutuamente de ter hoje lançado novos ataques na fronteira comum, mas o Paquistão realizou igualmente “ataques de precisão” em Cabul, disseram fontes da segurança paquistanesa, ataques que causaram cinco mortos e 35 feridos, segundo a ONG italiana Emergency, ao passo que as autoridades talibãs não divulgaram qualquer balanço.
Um cessar-fogo entre o Afeganistão e o Paquistão entrou em vigor hoje à noite, para pôr fim a um dos confrontos armados mais graves dos últimos anos na fronteira entre os dois países, que fez dezenas de mortos, incluindo civis.
A trégua entrou em vigor às 13 horas (14 horas de Portugal continental), pouco depois de ter sido anunciada por ambos os países, cada um afirmando que o outro a tinha solicitado para pôr fim ao aumento da violência.
Segundo Islamabad, deverá durar 48 horas.
“Durante esse período, ambos os lados se esforçarão sinceramente por encontrar uma solução positiva para este problema complexo, mas solucionável, através de um diálogo construtivo”, afirmou a diplomacia paquistanesa.
O Governo talibã ordenou ao Exército afegão para respeitar a trégua, “a menos que seja violada” pela parte oposta, disse o seu porta-voz, Zabihullah Mujahid, na rede social X.
Este novo ciclo de violência entre os dois países, que têm uma relação instável, foi desencadeado por outras explosões em Cabul e no sudeste do país na passada quinta-feira. O Governo talibã atribuiu-as ao Paquistão, que posteriormente lançou uma operação na fronteira.
Desta vez, o Governo talibã não acusou o Paquistão, mas confirmou a explosão de um reservatório de petróleo e de um transformador elétrico, sem fornecer mais pormenores.
Vários bairros de Cabul ficaram mais tarde sem energia elétrica: cabos sofreram danos nas explosões, e equipas técnicas foram mobilizadas para os reparar, indicou uma fonte da companhia de eletricidade.
Um responsável talibã, que pediu para não ser identificado, acusou o Paquistão de ser responsável pela segunda explosão e de ter querido “atingir civis” na capital.
No sul do país, mais de dez civis foram também hoje mortos, segundo fontes afegãs, e 100 ficaram feridos em Spin Boldak e “dois ou três” talibãs morreram igualmente, afirmou o porta-voz do Governo.
Ao longo de todo o dia, fontes da segurança paquistanesas indicaram que o Exército tinha atacado esconderijos de um grupo armado em Cabul e de talibãs afegãos na província de Kandahar, no sul do país.
O Exército paquistanês estima, assim, ter matado “entre 15 e 20 talibãs afegãos” em Spin Boldak, ao passo que o primeiro-ministro, Shehbaz Sharif, garantiu que “a soberania do país será defendida a qualquer preço”.