O que é a acrilamida — e por que ela preocupa

A acrilamida é um composto químico usado na fabricação de poliacrilamida, substância aplicada no tratamento de água potável e de esgoto, além de estar presente em colas, papel, cosméticos e obras civis. Apesar de ser comum na indústria, sua presença em alimentos ou organismos vivos pode ser extremamente perigosa.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta que a acrilamida causa câncer em animais e pode danificar o DNA humano, aumentando o risco de mutações e tumores. Embora ainda não esteja na Lista Nacional de Agentes Cancerígenos (Linach), o composto é tratado com cautela por agências internacionais de saúde.

Contaminação detectada em Bela Vista de Goiás

A análise foi feita pelo Projeto AquaCerrado, uma iniciativa de universidades goianas como a UFG e a UFJ, voltada a investigar a contaminação de rios do Cerrado. O foco do estudo foi o Córrego Sussuapara, em Bela Vista de Goiás, onde foram detectados resíduos do composto em sete pontos distintos, próximos à estação de tratamento de esgoto (ETE) da cidade.

Curiosamente, a acrilamida não foi encontrada em níveis significativos na água, mas estava acumulada nos tecidos dos peixes, o que indica contaminação crônica — possivelmente causada por exposição prolongada a despejos industriais ou resíduos urbanos.

Multa milionária e suspeita de poluição

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Semad) já havia autuado a Saneago, companhia responsável pelo tratamento de esgoto da região, em R$ 2,7 milhões por irregularidades ambientais. Durante uma vistoria em setembro, foram detectados níveis elevados de fósforo, E. coli e matéria orgânica (DBO) nas águas próximas à estação.

Apesar disso, a Semad afirmou que não foi constatado despejo direto de esgoto sem tratamento. O problema, segundo o órgão, é que o efluente tratado estava em desconformidade com normas ambientais, o que já é suficiente para configurar infração.

A Saneago, por sua vez, nega o uso de acrilamida no processo e diz que o tratamento na ETE de Bela Vista é feito por lagoas de estabilização, que usam microrganismos, algas e luz solar para depuração natural. A empresa argumenta ainda que a substância foi identificada em pontos anteriores à estação, o que pode indicar outras fontes de poluição difusa.

O próximo passo

Diante dos resultados, a Semad avalia a contratação de um novo estudo independente para investigar a origem da contaminação e confirmar a presença de acrilamida em outras áreas da Bacia do Paranaíba.

O caso levanta uma questão urgente: se uma substância tóxica e invisível já está circulando pelos ecossistemas de Goiás, quais outros riscos podem estar passando despercebidos? A resposta pode determinar o futuro da segurança hídrica e alimentar da região.

[Fonte: Maisgoias]

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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