Parque mais antigo de São Paulo, Jardim da Luz completa 200 anos em 2025Lago do Parque da Luz com a Pinacoteca ao fundo: relação com o entorno é uma das apostas da gestão atual <span>(Daniel Reis/Divulgação)</span>

Em 1800, quando o Brasil ainda era uma colônia de Portugal e São Paulo uma pequena província, a região em frente ao que seria a Estação da Luz foi transformada em Horto Botânico para ser um viveiro de plantas. Vinte e cinco anos mais tarde, em 19 de novembro de 1825, o terreno ganhou status de passeio público e foi inaugurado com o nome de Parque Jardim da Luz. Tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) em 1981, esse, que é o mais antigo dos 120 parques municipais da capital paulista, comemora 200 anos em 2025, preservando as estruturas dos séculos passados e tendo à frente o desafio de se manter como um local de lazer para a população do presente.
Sergio Lessa, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Belas Artes, explica que o parque foi projetado com um “traçado eclético” — em referência à mistura de estilos como o clássico e o romântico — voltado a ser objeto de contemplação para a aristocracia da época. “As pessoas deveriam ir lá para apreciar a paisagem.” De lá para cá, os parques públicos passaram a ser locais de lazer ativo, mas esse permanece um desafio para o Jardim da Luz, onde atividades como andar de bicicleta e fazer piquenique são proibidas. “É uma questão da forma como o espaço foi pensado. Para rever isso, precisaria haver uma nova proposta, mas não faz sentido desfazer a estrutura histórica. Desde a sua criação, houve uma reformulação em direção ao lazer ativo, mas ela não atendeu a essa demanda novíssima da sociedade, que pratica muito os esportes de rua, por exemplo.”

Para Sergio, a solução para o dilema pode estar na relação com o entorno, que inclui a Estação Júlio Prestes, a Estação da Luz, as Pinas Luz e Contemporânea e o Museu da Língua Portuguesa. É nisso que a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) está mirando também. “Queremos trazer o público do entorno, em uma rede de engajamento comunitário”, afirma o gestor do equipamento, Antônio Toro.

Arquitetura e paisagismo do século XIX (Daniel Reis/SVMA/Divulgação)

O que tem no Parque da Luz
Atualmente, o Parque da Luz recebe entre 5 000 e 6 000 visitantes por dia. Entre as 6h e as 10h, 70% do público é idoso, muitos atraídos pela programação fixa, que inclui oficina de práticas integrativas corporais em saúde, exercícios de fortalecimento muscular e auriculoterapia. O gestor afirma, também, que o efetivo da segurança da área verde cresceu de seis para quinze vigilantes diariamente. Ele adianta que um grupo técnico de trabalho da SVMA está desenvolvendo um projeto de restauro de algumas estruturas, como o Lago Cruz de Malta e o Lago dos Cisnes, mas ainda sem data para o início das obras. A última restauração ampla ocorreu em 1999. “Com certeza precisa de uma nova”, diz Sergio. Para a comemoração do bicentenário, a SVMA está preparando uma programação para novembro, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e a Pinacoteca.

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Aberto das 6h às 18h, exceto às segundas, o Jardim da Luz oferece um respiro para a população da região do Bom Retiro. Com seus 76 885,62 metros quadrados, ele é lar para 98 espécies animais, sendo oitenta de aves, que convivem com 192 espécies de plantas, das quais quatro estão ameaçadas de extinção: cedro, palmito-juçara, paubrasil e pinheiro-do-paraná. Entre a flora, há árvores centenárias, como o famoso Jatobá do Parque da Luz, casa de alguns bichos-preguiça. Por lá, o visitante também encontra esculturas da coleção da Pinacoteca, de nomes como Lasar Segall, Amilcar de Castro e Nuno Ramos.

‘Neosymbiota’, escultura de Licida Vidal (Karina Bacci/Divulgação)

14ª Mostra 3M de Arte
Até o dia 26, elas dividem o espaço com as obras da 14ª edição da Mostra 3M de Arte. A exposição itinerante passeia pelos parques da capital há mais de uma década, tendo ocorrido em locais como o Parque Augusta e o Ibirapuera, e chega pela primeira vez ao Parque da Luz. A curadora Ana Carolina Ralston celebra o feito. “Por ele ser tão antigo, passou por muitas transformações, tem muito biomorfismo nesse lugar. Ele foi se transformando junto com a cidade, passou a ser gradeado, depois voltou a não ser. Tinha plantas mais exóticas, hoje tem plantas muito brasileiras. Levar a mostra para lá é uma forma, também, de revitalizar e descentralizar as regiões artísticas da cidade. Sair de Jardins, Vila Madalena, Pinheiros, locais onde estão as galerias.”

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Instalação de Luiz Zerbini (Karina Bacci/Divulgação)

Com o nome Biomorfos — A Reinvenção do Ser, a exposição reúne obras feitas especialmente para a ocasião por Ayrson Heráclito, Leandra Espírito Santo, Leandro Lima, Lícida Vidal, Luiz Zerbini e Rafa Bqueer. A proposta é aproximar o público de discussões urgentes sobre corpo, ambiente e futuro. “Ao falar de natureza, a gente tende a olhar para todo o mal que aconteceu no planeta, que de fato aconteceu. Mas Biomorfos é uma tentativa de projetar um futuro possível, onde a gente misture humanidade, tecnologia e natureza para criar novas formas de vida. É uma espécie de ecofuturismo, e trouxemos artistas que misturam esses três temas nas suas pesquisas também”, explica a curadora.
São obras que mobilizam as estruturas do parque, como a de Zerbini, É Proibido Pisar na Grama. O Jeito É Deitar e Rolar, instalação localizada embaixo de uma das maiores figueiras locais, e a escultura de Vidal, que capta a água da chuva, filtra e a devolve para o parque para irrigação. As obras da Mostra 3M estão, em sua maioria, distribuídas entre a Pina Luz e a Pina Contemporânea. “A gente visitou inúmeras vezes o parque para entender quais locais seriam melhores, tanto para a natureza poder acolher esses trabalhos e não machucar nenhuma das plantas quanto para formar um trajeto que fizesse sentido”, explica Carol. A ideia é conectar os visitantes do museu às obras e atraí-los ao parque: “Fazer as pessoas visitarem esse lugar de São Paulo que mais pessoas deveriam conhecer”.

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Publicado em VEJA São Paulo de 3 de outubro de 2025, edição nº 2964.

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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