Boletim de MONEY REPORT sobre questões ambientais, sociais e de governança no mundo dos negócios
Aparas descartadas viram embalagens plantáveis
Produtora de material artesanal a partir de aparas pós-consumo, a Papel Semente cria convites, tags, cartões e embalagens plantáveis 100% biodegradáveis. O modelo de negócio social e ambiental foi desenvolvido por Andréa Carvalho, que atua com colaboradores da comunidade de Guaxindiba, em São Gonçalo (RJ), onde está a fábrica. O acabamento dos produtos é feito por artesãs locais e a matéria-prima vem de cooperativas, como a Recooperar, vinculada à ONG Guardiões do Mar, que atua na limpeza de praias e rios de Niterói e São Gonçalo. Desde 2009, a empresa atendeu cerca de 20 mil clientes, reciclando mais de 400 toneladas de aparelhos, o que economizou 3,2 milhões de litros de água e 1.350 MWh de energia, além de espalhar 3,5 toneladas de sementes germinadas. “Essas parcerias aumentaram em até 40% a renda dos catadores e consolidaram um modelo de economia circular e inclusão produtiva”, diz ela. A Papel Semente conquistou o Selo Empresa Amiga da Mulher e tornou-se Empresa B Certificada em 2016, por integrar o movimento global de negócios que geram impacto em cinco dimensões: comunidade, meio ambiente, governança, funcionários e modelo de negócio.
Agroflorestas Brasil–França na Bahia e na Alsácia
Projetos de agrofloresta em Botuporã, na Bahia, conectados com comunidades de plantadores da Alsácia, no leste da França, combinam madeiras com árvores de maior porte para melhorar a resiliência do solo ao estresse hídrico e recuperação de áreas degradadas. A iniciativa inclui capacitação de agricultores brasileiros, intercâmbio de jovens, introdução de técnicas agroecológicas e uso de áreas subutilizadas de pasto. A iniciativa foi apresentada na COP30 como exemplo de “florestas produtivas”, que é uma mitigação e adaptação climática. O modelo também envolve mudanças na relação com o varejo, como prateleiras de “produtos da floresta”, e pagamento antecipado, para viabilizar financeiramente produtores de pequena escala.
O que significa a derrubada de vetos na lei de licenciamento ambiental
O Congresso derrubou na semana passada 56 dos 63 vetos presidenciais à nova lei de licenciamento ambiental, reintroduzindo dispositivos que flexibilizam licenciamentos para atividades como manutenção de estradas e obras limitações como de utilidade pública, além de ampliar possibilidades de licenciamento autodeclaratório. O Ministério do Meio Ambiente considera acionar o STF, afirmando que a mudança reduz as salvaguardas em um cenário de eventos climáticos extremos cada mais frequentes. A ministra Marina Silva classificou o resultado como “demolição da legislação”, argumentando que os riscos de tragédias ambientais tendem a aumentar. Ainda restam sete vetos pendentes, ligados à criação da Licença Ambiental Especial (LAE), em negociação entre governo e Congresso e também participando em medida provisória em tramitação.
SP + Verde começa com 500 hectares em recuperação
Recém-lançado pelo governo paulista, o Acordo SP + Verde homologou os primeiros termos que impedem a recuperação de mais de 500 hectares de áreas degradadas e o pagamento de mais de R$ 2 milhões em multas ambientais. O programa substitui contratos prolongados por acordos de conciliação com foco na recomposição in loco de danos, principalmente em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e outros espaços acima de 50 hectares. A meta inicial é recuperar mais de 11 mil hectares vinculados a 63 autos de infração ambiental que somam cerca de R$ 195 milhões em multas. O programa oferece descontos na multa, parcelamento e conversão em serviços ambientais, com execução via Finaclima, que canaliza recursos diretamente para projetos de restauração. O modelo foi criado a partir de parcerias entre Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo (PGE-SP), secretarias de Meio Ambiente e de Infraestrutura e Logística (Semil), Tribunal de Justiça (TJSP) e Ministério Público (MP-SP).
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Sensores de diesel vencem desafio nos transportes
O Senai Nova Lima (MG) venceu o Desafio para a Descarbonização, promovido pelo Grupo Iveco e Senai-MG, com o emprego de sensores que monitoram a qualidade do diesel nos tanques de caminhões. Quando há detecção, um alerta de contaminação é disparado. O desafio mobilizou 5 mil jovens e mil projetos direcionados à redução de emissões no transporte de carga, com finalistas que trabalharam com captura de CO₂ em escapamentos e sistemas de frenagem regenerativa para veículos pesados. As propostas foram avaliadas em protótipos impressos em 3D.
Nanotecnologia contra fraudes e para rastreio de recicláveis
A Ciclopack desenvolveu o CicloID, uma nanotecnologia que funciona como um “token físico” incorporado em embalagens e materiais reciclados, o que permite rastrear origem, cadeia de transformação e composição do produto. A leitura é feita em poucos segundos por espectroscopia no infravermelho próximo, o que torna possível identificar fraudes em bebidas, defensivos agrícolas, embalagens industriais e outros itens de alto valor sem necessidade de abertura do produto. A solução também permite cruzar informações com notas fiscais e verificar se o material corresponde ao declarado, reduzindo riscos também na logística reversa e na reciclagem. A startup é incubada em centro de inovação ligado à Universidade de São Paulo (USP).
Raio-X das Climatechs e o Gap de Investimento
O Relatório do Fórum Brasileiro das Climatechs, em parceria com Climate Ventures e GIZ, aponta que a América Latina recebeu apenas 0,8% dos investimentos globais em Climatechs em 2024, apesar do potencial da região em bioeconomia, energia renovável e uso da terra. O estudo mostra que, das 18 mil startups mapeadas no Brasil, 14% atuam em segmentos ligados à transição verde, em áreas como agricultura, florestas, energia, resíduos e água. O principal gargalo é financeiro: os modelos tradicionais de venture capital não se ajustam aos negócios intensivos em hardware, ciência e infraestrutura, que exigem ciclos mais longos e instrumentos como financiamento combinado. O documento recomenda políticas de Estado, sandboxes regulatórios, plataformas de orquestração financeira e compras públicas verdes para destravar o setor e tratar as mudanças climáticas como parte da infraestrutura da nova economia.
Décola o primeiro aeroporto com SAF no Brasil
O Aeroporto Internacional de Salvador passa a operar dois voos comerciais diários abastecidos com mistura de 10% de combustível sustentável de aviação (SAF) puro e 90% de querosene fóssil, no maior blend regular já usado na aviação brasileira. O SAF fornecido pela Vibra é produzido a partir de óleo de cozinha usado e pode reduzir em cerca de 80% as emissões de gases de efeito estufa em relação ao combustível convencional ao longo do ciclo de vida. A operação, prevista até dezembro de 2026, integra a estratégia do governo baiano de posicionar o estado na rota da transição energética. Salvador já possui certificação máxima de gestão de carbono (ACA 5). A adoção contínua do SAF reforça a vinculação do aeroporto às metas de descarbonização do setor aéreo.
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Força feminina no agro
A participação feminina no agronegócio brasileiro atingiu novo patamar em 2025, com 10,8 milhões de mulheres empregadas — 37,9% da força de trabalho — após crescimento de 1,9% em relação ao ano anterior, segundo Cepea/CNA. A liderança no campo também avançou: o número de propriedades rurais geridas por mulheres aumentou 44% em dez anos, chegando a 946 mil estabelecimentos que somam 11,96 milhões de hectares, conforme o Observatório das Mulheres Rurais da Embrapa. Em Minas Gerais, líder em café, 86,7 mil propriedades são administradas por elas.
15% da receita é o custo da inação climática empresarial
O Barômetro Global de Ação Climática da EY indica que a inércia pode representar perda de até 15% da receita anual das empresas, considerando impactos de eventos extremos, interrupções de cadeia e riscos regulatórios. O estudo analisou 857 companhias em 50 países, mostrou que, embora 64% tenham planos de transição, a maioria não demonstra avanços consistentes e muitas revisões de metas ou atrasam entregas. A pesquisa destaca que apenas 31% avaliam conjuntamente o custo de agir e o de não agir. Só 17% divulgam impactos financeiros dos riscos climáticos em relatórios públicos. O levantamento se soma às projeções do governo brasileiro apresentadas na COP30, que estima perda potencial de R$ 17,1 trilhões de PIB em 25 anos se este cenário persistir.
Documentário Com Causa e ativismo
O documentário Com Causa, de Belisário Franca e Pedro Nóbrega, reúne depoimentos de ativistas em diferentes regiões do mundo, registrando o impacto de suas ações em contextos locais e globais. A produção destaca personalidades como Paul Watson, Kakenya Ntaya, Jeremiah Thoronka, Dagmar Rivieri (Tia Dag), Carmen Silva e Muzoon Almellehan. O filme discute como enfrentar desigualdades sociais, crises ambientais e transparentes de direitos. A exibição especial em São Paulo, sessão única em cinema de shopping, reforça a circulação da pauta socioambiental em espaços culturais urbanos e amplia o alcance da discussão.
Alfabetização nos canteiros
O programa Escola Nota 10, da MRV, oferece desde 2011 aulas de português e matemática para trabalhadores da construção civil dentro dos canteiros e em horário de expediente, focadas em profissionais que não concluíram o ensino básico. Mais de 5 mil trabalhadores já passaram pela iniciativa em 20 estados e no Distrito Federal. Parte deles utiliza a formação para prestar o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), que certifica a conclusão dos ensinos fundamental e médio. A metodologia, desenvolvida pela Alicerce Educação, organiza ciclos intensivos a cada dois meses e é ampliada com aulas de gestão e educação financeira. O programa é tratado como componente da estratégia ESG e é acompanhado por metas de abertura de novas turmas, ao lado de ações ligadas à diversidade e reinserção social de apenados e jovens em conflito com a lei.