Desde o devastador incêndio do Chiado, a 25 de agosto de 1988, que Lisboa não vivia uma tragédia de tamanha dimensão. O acidente no Elevador da Glória, no passado dia 3, trouxe luto e consternação à cidade, marcando um novo capítulo de tristeza na sua história recente. As imagens do desastre abalaram a população e deixaram o País e o mundo em choque. Do acidente, resultaram 16 pessoas mortos, cinco com ferimentos graves e 13 com ferimentos leves, algumas das quais não eram ocupantes dos veículos. Entre as vítimas mortais estão cinco portugueses, quatro funcionários da Santa Casa da Misericórdia e o guarda-freio do elevador.
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“Os telemóveis não paravam de tocar”
Em conversa exclusiva com a TV 7 Dias, dois bombeiros, que preferem manter o anonimato, por motivos de segurança e respeito pelas vítimas, contam-nos o que viram e o que sentiram, naquele fim de tarde, marcada pelo caos, pelo sofrimento e por imagens impossíveis de apagar. “Já tive algumas situações graves, mas sim, esta foi sem dúvida uma ocorrência marcante”, recorda um dos operacionais, que esteve entre os primeiros a chegar à ocorrência. Ele descreve os primeiros instantes como “um cenário de caos e agitação”, em que se percebia imediatamente que a tragédia era profunda. “Assim que chegámos ao local, percebemos a possibilidade de existirem muitas vítimas mortais. O impacto era visível, e o pânico das primeiras pessoas que ali estavam confirmava essa sensação.”
Uma das situações que mais impressionou os bombeiros foi o som insistente dos telemóveis das vítimas. “Enquanto tirávamos pessoas dos destroços, os telemóveis não paravam de tocar. Eram chamadas que nunca iam ser atendidas, de familiares desesperados em busca do som de uma voz, que nunca mais vai chegar. Isso mexe connosco, dá vontade de pegar no aparelho e dizer a alguém: ‘Está aqui a pessoa que procura’… mas sabemos que não podemos. Foi perturbador.” O colega acrescenta: “Antes de começarmos a desencarcerar, ainda no veículo, falamos entre nos e dissemos que talvez fossemos ver coisas nunca tínhamos visto. Comentamos que se alguém não se sentisse capaz, não havia vergonha em recuar. Todos avançamos, mas no final percebia-se no rosto de cada um a consternação. Os nossos rostos estavam brancos, exaustos, em choque”, recorda.
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Texto: Neuza Silva (neuza.silva@impala.pt); Fotos: Nuno Moreira