Operação da Polícia Federal investiga se a contaminação por um vírus fatal em ararinhas-azuis reintroduzidas na Bahia resultou de ação criminosa. Mandados foram cumpridos e empresas do programa de conservação são alvo.
![]()
Uma investigação da Polícia Federal busca apurar se a reintrodução da ararinha-azul na caatinga baiana foi sabotada pela disseminação deliberada de um vírus fatal entre as aves. Mandados foram cumpridos em Brasília e em Curaçá, cidade que recebeu os animais.
A Polícia Federal deflagrou uma operação nesta quarta-feira para investigar a disseminação criminosa do circovírus aviário, agente patogénico da doença do bico e das penas (PBFD), no frágil núcleo de ararinhas-azuis reintroduzidas na natureza. A ação, que cumpriu cinco mandados de busca e apreensão em Curaçá, na Bahia, e em Brasília, tem como alvo empresas e pessoas físicas vinculadas ao programa de recuperação da espécie. Há indícios sólidos de que protocolos sanitários foram violados, permitindo a introdução e propagação da doença contagiosa e incurável, conforme detalhou a corporação. Os investigados poderão responder por crimes contra a fauna silvestre e obstrução de fiscalização.
A tragédia sanitária veio à tona publicamente na semana passada, quando o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) confirmou que todos os 11 espécimes vivendo em liberdade no sertão da Bahia testaram positivo para o vírus. O centro de criação em Curaçá, responsável pela aclimatação das aves, foi multado em R$ 1,8 milhão por falhas graves na contenção do surto. Para além dos animais soltos, outros 20 mantidos em cativeiro no local também estão contaminados. O cenário joga uma sombra de incerteza sobre um dos projetos mais simbólicos da conservação brasileira.
A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), declarada extinta na natureza há mais de duas décadas, começou a voltar ao seu habitat original em 2020, com a soltura de indivíduos nascidos em cativeiro na Europa. A história da ave, que inspirou o filme de animação Rio, de Carlos Saldanha, transformou-se numa saga real de esperança e, agora, num potencial crime ambiental de grandes proporções. A doença não oferece risco a humanos, mas é devastadora para psitacídeos, comprometendo penas, bico e sistema imunitário. As autoridades temem que o surto, se realmente facilitado por ação humana, possa aniquilar anos de trabalho e investimento, colocando em risco definitivo a tênue população selvagem que se tentava restabelecer.
NR/HN/Lusa
