A Polícia Civil de Goiás deflagrou, nesta quinta-feira, 30, a Operação Césio 171 para cumprir sete mandados de busca e apreensão e cinco mandados de prisão temporária na Região Metropolitana de Goiânia. Entre os alvos estão advogados, um médico e um engenheiro investigados por estelionato contra ente público, associação criminosa e falsidade ideológica. Segundo a Polícia Civil, o prejuízo potencial chega a R$ 79 milhões, com dano efetivo já apurado em cerca de R$ 1,7 milhão.
Esta é a segunda fase das investigações, que apontam a atuação de um grupo responsável por falsificar documentos, incluindo laudos e relatórios médicos, para protocolar ações judiciais em nome de militares estaduais. O objetivo seria garantir isenção indevida de imposto de renda sob a alegação de contaminação por Césio 137, substância envolvida no maior acidente radiológico do mundo fora de uma usina nuclear, ocorrido em Goiânia na década de 1980.
A ação, conduzida pela Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), por meio do Grupo de Repressão a Roubos, conta com apoio da Gerência de Ações Estratégicas da Secretaria Estadual de Saúde. A primeira operação foi deflagrada em 2024.
Início das investigações
As investigações que culminaram na operação de setembro de 2024 começaram após a Justiça de Goiás receber, em dois anos, cerca de 80 ações alegando que clientes apresentavam doenças graves provocadas pela contaminação do Césio-137, no maior acidente radiológico do país, ocorrido em Goiânia, em 1987. Todas as ações foram movidas por cinco advogados e estavam em nome de policiais militares e bombeiros aposentados de Goiás e Tocantins, com alegações de contaminação por material radioativo. Em alguns casos, os processos também apontavam doenças como Aids e cardiopatia, condições que garantem isenção do Imposto de Renda.
A operação da Polícia Civil identificou fraudes em laudos médicos, com prejuízo estimado superior a R$ 20 milhões aos cofres públicos. Entre os investigados estavam um tenente-coronel do Corpo de Bombeiros e um promotor de Justiça, que teriam sido incluídos em processos fraudulentos sem jamais terem contato com o material radioativo. Duas advogadas, apontadas como articuladoras do esquema, foram presas, enquanto um policial reformado foi detido por captar clientes para a fraude. As investigações revelaram que, em pelo menos 18 processos, uma clínica de Goiás foi usada para falsificar exames, sendo que os resultados nunca saíram do escritório da advogada responsável.
Os depoimentos e áudios colhidos durante as apurações indicam que algumas das vítimas do esquema desconheciam a fraude ou foram induzidas a confiar nas advogadas. Entre eles, o ex-promotor Carlos Alberto Fonseca e o tenente-coronel Sebastião Otávio tiveram laudos médicos forjados com exames que não comprovam contaminação. A Justiça busca agora a devolução dos valores recebidos indevidamente, enquanto os investigados defendem que agiram por confiança nas advogadas e sem má-fé, embora a Polícia Civil sustente que a ação foi consciente e organizada.
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