Quase 25 decisores políticos de 19 países europeus testaram, a convite da Dinamarca, a presença no sangue de diferentes substâncias perfluoroalquiladas (PFAS, na sigla em inglês), também conhecidas como compostos químicos “eternos”. O resultado? Todos testaram positivo, incluindo o secretário de Estado do Ambiente de Portugal, João Manuel Esteves.
Os testes de metade dos líderes da União Europeia apresentavam níveis de contaminação acima do limite considerado tolerável, ou seja, que atingem um patamar no qual não se pode excluir possíveis impactos na saúde humana.
Seis dos tipos de PFAS detectadas nos testes de sangue já estão restringidas ou banidas na Europa ao abrigo de regulamentos comunitários. O facto de, apesar disso, as substâncias continuarem presentes no sangue dos políticos testados ilustra bem a persistência desses compostos não só nos ecossistemas, mas também nos tecidos vivos.
As PFAS são compostos fluorados que não se degradam com facilidade – e daí serem conhecidos informalmente como substâncias químicas “eternas”. Conferem resistência e impermeabilidade aos materiais e produtos onde são aplicados e, por isso, são amplamente utilizados em frigideiras, têxteis anti-manchas, embalagens, dispositivos médicos, espumas de combate a incêndios e processos industriais.
“Questão de saúde pública”
“Tal como muitos outros cidadãos em toda a Europa, tenho PFAS no meu corpo. Testei positivo em seis dos 13 PFAS, incluindo alguns que são classificados como tóxicos para a saúde reprodutiva. A poluição por PFAS é uma questão vital de saúde pública”, afirma Jessika Roswall, comissária europeia para o Ambiente, Resiliência Hídrica e Competitividade, citada num comunicado.
Entre três e oito substâncias químicas PFAS — das 13 testadas — foram detectadas no sangue de todos os líderes europeus testados. Todas as 24 pessoas testadas apresentam um nível total de exposição a PFAS superior a 2 nanogramas por mililitro, limite acima do qual é recomendado “acompanhamento médico específico”, refere a nota de imprensa.
O PFOS, um tipo de PFAS regulamentado na União Europeia em 2008, foi o composto que apresentou as concentrações mais elevadas, chegando até 17,19 nanogramas por mililitro.
A realização dos testes resulta de uma iniciativa liderada pelo ministério do Ambiente e Igualdade de Género da Dinamarca — país que ocupa a presidência rotativa do Conselho da União Europeia —, em parceria com o European Environmental Bureau (EEB) e o Secretariado Internacional de Substâncias Químicas (ChemSec). O EEB, a maior federação de organizações ambientais da Europa, é a entidade que, em 2024, organizou uma campanha semelhante, na qual 11 líderes europeus testaram a presença de PFAS no sangue. Todos deram positivo.
Proibir PFAS em produtos de consumo
Jessika Roswall acredita que esta “iniciativa ousada”, que revela a “contaminação generalizada por PFAS”, poderá incentivar outros líderes da União Europeia a tomar medidas robustas em relação à poluição química.
“A minha prioridade é trabalhar para uma rápida proibição das PFAS nos produtos de consumo na União Europeia. Para usos industriais, precisamos de passar para alternativas limpas e sustentáveis o mais rapidamente possível e garantir regras rigorosas que controlem a poluição até que sejam encontrados substitutos”, acrescenta a comissária europeia.
Além de Jessika Roswall, foram testados decisores políticos como Magnus Heunicke, ministro do Ambiente da Dinamarca, Agnès Pannier-Runacher, ministra da Transição Ecológica, Biodiversidade, Florestas, Mar e Pescas da França, e Hugo Moran Fernandez, secretário de Estado do Ambiente de Espanha.
Manifesto STOP PFAS
O European Environmental Bureau e o ChemSec, juntamente com outras 100 organizações ambientais europeias (incluindo a portuguesa Zero), lançam esta terça-feira o manifesto Stop PFAS. O objectivo é encorajar os decisores políticos europeus a agir, apoiando a restrição universal das PFAS.
“Os cidadãos da União Europeia não devem ter de se contentar apenas com uma proibição parcial dos bens de consumo [com PFAS]. Atrasos e lacunas apenas prolongarão a crise de contaminação e aumentarão os riscos para a saúde e os custos de limpeza para as gerações futuras”, lê-se no comunicado conjunto das organizações ambientais.
A União Europeia está num período decisivo no que toca à regulamentação de produtos químicos perigosos. Isto porque a Bruxelas deverá não só rever em breve a regulamentação REACH, mas também porque continua em cima da mesa uma proposta de proibição universal das PFAS apresentada por cinco países.