O governo da China anunciou a criação de um fundo estatal com foco em tecnologias consideradas estratégicas, como inteligência artificial, computação quântica e armazenamento de energia por hidrogênio.

A medida ocorre em meio ao acirramento da disputa tecnológica entre China e Estados Unidos.

O fundo, denominado “fundo de orientação de capital de risco estatal”, terá como objetivo acelerar o desenvolvimento de setores considerados prioritários para a economia chinesa.

Segundo estimativas divulgadas por autoridades do país, o fundo pretende atrair cerca de 1 trilhão de yuans em capital, o equivalente a aproximadamente US$ 138 bilhões, ao longo de duas décadas.

A decisão foi divulgada após o avanço do modelo de inteligência artificial DeepSeek, desenvolvido na China.

A tecnologia vem sendo apontada como uma das plataformas com potencial de competir internacionalmente no setor de IA generativa, que tem sido um dos focos estratégicos das principais economias globais.

Inteligência artificial ganha status de prioridade econômica

As autoridades chinesas classificam a inteligência artificial como um vetor essencial para impulsionar o crescimento econômico do país nos próximos anos.

A medida também reflete a resposta de Pequim às restrições comerciais e tecnológicas impostas pelos Estados Unidos, que incluem limites ao acesso chinês a semicondutores avançados e equipamentos para fabricação de chips.

Além da IA, o governo chinês incluiu no escopo do fundo os segmentos de computação quântica, robótica, semicondutores e energia limpa.

A expectativa oficial é que o incentivo a essas áreas contribua para a redução da dependência de insumos tecnológicos estrangeiros e para o fortalecimento da base industrial nacional.

Em declarações recentes, autoridades do alto escalão do governo reiteraram a necessidade de investir em setores de ponta como estratégia para contornar os impactos das sanções e preservar a capacidade de inovação doméstica.

Pressão externa reforça planos de autonomia tecnológica

Desde 2022, os Estados Unidos têm ampliado as restrições comerciais e tecnológicas sobre a China, com foco no setor de semicondutores e no bloqueio à transferência de tecnologias consideradas sensíveis.

Entre as medidas, estão a proibição da exportação de determinados chips e a imposição de limites à venda de equipamentos de fabricação de semicondutores.

Como reação, o governo chinês passou a intensificar políticas de substituição tecnológica, ampliando investimentos públicos e reorganizando seus programas de incentivo à inovação.

A criação do fundo estatal insere-se nesse contexto, como parte de um plano mais amplo de aumento da autossuficiência tecnológica.

Participação do setor privado ganha destaque

Paralelamente à iniciativa estatal, o governo tem buscado mobilizar o setor privado como componente estratégico na política industrial.

No mês passado, o presidente Xi Jinping reuniu-se com executivos de empresas de tecnologia, em encontro no qual reforçou a importância da iniciativa privada no atual estágio de desenvolvimento econômico.

Durante a reunião, Xi afirmou que o momento atual representa uma “hora nobre” para as empresas privadas “darem o máximo de si em suas capacidades”.

A fala foi interpretada por analistas como um sinal de reaproximação com o setor, após um período prolongado de restrições regulatórias que afetaram diversas companhias de tecnologia nos últimos três anos.

Segundo dados oficiais, o setor privado responde por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) da China e por mais de 80% dos empregos no país.

A retomada do crescimento das empresas privadas, em especial as voltadas à inovação, é vista pelo governo como essencial para atingir metas de médio e longo prazo.

Mudança de foco inclui estímulo à demanda doméstica

Nos últimos anos, a estratégia de desenvolvimento chinês foi centrada na ampliação da capacidade tecnológica e na modernização industrial, com menor ênfase no estímulo ao consumo interno.

Entretanto, o governo tem sinalizado uma mudança de abordagem, com maior foco na recuperação da demanda doméstica e na ampliação do mercado interno.

A combinação entre investimento estatal em tecnologias estratégicas e estímulo ao consumo é apontada por autoridades como um novo eixo de sustentação do crescimento.

O fortalecimento da indústria de alta tecnologia e o incentivo ao papel das empresas privadas aparecem como elementos complementares dessa estratégia.

Próximos passos envolvem estruturação operacional do fundo

O governo ainda não detalhou o cronograma de execução do novo fundo, nem os critérios para seleção de projetos ou empresas beneficiárias.

Segundo fontes ligadas ao setor, a estruturação operacional envolverá a definição de gestoras, mecanismos de captação de recursos e instrumentos para direcionamento dos investimentos.

A iniciativa será acompanhada de outras políticas já em curso, como os programas de financiamento direto a startups de tecnologia e os incentivos fiscais para empresas com foco em pesquisa e desenvolvimento.

A criação do fundo é interpretada por analistas como parte de uma ofensiva estratégica do governo chinês para manter a competitividade global em setores de alta tecnologia e reduzir os efeitos das restrições internacionais.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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