Neil deGrasse Tyson, um dos mais importantes divulgadores de ciência, disse um dia que “a ciência não está preocupada com as nossas opiniões ou crenças. O que é verdadeiro é verdadeiro, quer acreditemos ou não”. A frase é simples e resume o grande equívoco do nosso tempo: acreditar que a realidade é opcional. O clima, contudo, não negoceia. Enquanto adiamos decisões, o planeta aquece. Enquanto discutimos metas, as florestas ardem, os solos secam, as migrações crescem. E, quando a natureza reage, já é tarde para discursos ou cimeiras sem consequência.

Neste cenário de desastre anunciado há muitas décadas, o papel da Europa é decisivo. Nenhum outro continente combina poder económico, legitimidade democrática e ambição climática. Mas a Europa não pode limitar-se a legislar: precisa de liderar. A sua força deve ser não apenas regulatória, mas inspiradora, unindo a ciência, a tecnologia, a diplomacia e o investimento para mostrar que prosperidade e sustentabilidade são compatíveis. O Pacto Ecológico Europeu deve ser exportado não como imposição moral, mas como proposta de uma economia verde que cria riqueza, reduz desigualdades e devolve esperança.

Mas o mundo não é igual e mesmo na Europa e nos países desenvolvidos vivemos o dilema entre o “fim do mês e o fim do mundo” onde há quem possa e quem não consiga acompanhar o ritmo da transição. Mas o tempo da complacência acabou e não espera. Para sermos capazes de fazer o que a ciência nos implora que façamos, é preciso reconectar as democracias à sua dupla legitimidade: de valores, direitos e justiça mas também de resultados, eficácia e impacto. Quando o centro político deixa de saber conversar, os extremos ocupam o espaço do diálogo, transformando o medo em capital eleitoral e a ignorância na base das políticas públicas.

Fora da Europa, nas várias cimeiras entre a União Europeia e África fala-se sempre de “parceria entre iguais”. Mas a verdade é que o custo da não sustentabilidade continua a recair sobre quem menos contribuiu para o problema. A África, responsável por apenas 4% das emissões de gases com efeito de estufa, é hoje o continente mais jovem do mundo, com uma idade média de 19 anos e enfrenta um futuro em que o modelo de desenvolvimento da revolução industrial — baseado em extração, consumo e desperdício — já não é viável. Se quisermos um planeta justo, equilibrado e habitável, teremos de transitar para um modelo sustentável, inclusivo e circular, onde as pessoas que vivem nos países em desenvolvimento tenham a mesma qualidade de vida de quem vive nos países desenvolvidos. Para isso, a cooperação para o desenvolvimento entre a Europa e África, a América Latina e a Ásia deve assentar no respeito mútuo, na co-responsabilidade e numa verdadeira parceria para o desenvolvimento.

Mas enquanto o mundo literalmente arde e se afoga, o multilateralismo e a cooperação internacional desaparecem e a Europa joga o seu futuro em três tabuleiros: o económico e comercial, onde tenta equilibrar-se entre a China e os Estados Unidos; o da política externa, onde procura uma voz própria num mundo multipolar; e o da defesa, onde a guerra na Ucrânia expôs fragilidades que muitos preferiam ignorar. No entanto, a insensatez do mundo limitou-se a colocar à vista que o verdadeiro desafio Europeu está dentro de portas, entre países e instituições que olham à volta e vêm realidades diferentes, prioridades incompatíveis e futuros desencontrados.

O desafio das alterações climáticas não é apenas ambiental. É civilizacional. Obriga-nos a rever a forma como produzimos, consumimos e convivemos. Obriga-nos a escolher entre o medo e a responsabilidade, entre o egoísmo e a cooperação, entre o populismo e a democracia. A ciência pode não se preocupar com as nossas crenças, mas o planeta, esse, já está a pagar o preço da nossa cegueira.

Professor Convidado UCP/UNL/UÉ

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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