Na decoração, as cores vão muito além de um recurso estético, elas influenciam o humor, ampliam ou reduzem espaços e ajudam a imprimir personalidade em cada ambiente. Para quem deseja acrescentar estilo, ousadia e personalidade à decoração, ter as cores como aliadas é uma ótima estratégia. Com a dose certa e escolha cuidadosa, é possível criar uma atmosfera única para cada cômodo, transmitindo diferentes sensações.
Na 33ª edição do CasaCor Brasília 2025, arquitetos e designers exploram paletas e transformam a casa em refúgio, palco de convivência e expressão de estilo. Dos tons terrosos, que resgatam a conexão com a natureza, aos mais vibrantes, que trazem energia ao cotidiano, a mostra evidencia como a escolha dos tons pode redefinir a experiência de viver em casa.
Um exemplo prático é o ambiente Eu quero um banho de xêro, projetado pelo escritório HC Arquitetura. O arquiteto Rick Hudson e seu time criaram um ambiente que convida o visitante a desacelerar e se reconectar com o essencial. Um destaque do ambiente é o piso pintado à mão pela artista Erica Saraiva, que traz uma explosão de cores e formas.
Rick conta que, a princípio, criar a paleta para o ambiente foi difícil, pois era preciso unir muitas cores e ainda manter o ambiente elegante, mas o objetivo principal era valorizar o produto, por se tratar de um ambiente comercial, e isso que baseou a escolha.
No ambiente Eu Quero um Banho de Xêro, o piso traz uma explosão de cores e formas
(foto: Foto: Edgard Cesar )
O arquiteto explica que, antes de definir cores para um lugar, é importante primeiro conhecer quem vai utilizar aquele espaço. “O uso consciente das cores pode contribuir para ambientes de maior concentração nos estudos, noites de sono contínuas ou até que ajudem a abrir o apetite. Uma pessoa com fotossensibilidade provavelmente vai se sentir melhor em ambientes onde as cores absorvem mais luz do que refletem. Da mesma forma que uma pessoa que tem dificuldade para acordar com energia e ânimo, talvez precise de áreas coloridas que criem pontos de luz no ambientes”, detalha.
Cores como aliadas
Mas esse uso consciente das cores vai além do que pensamos. Em seu ambiente Raízes do amanhã, o arquiteto Glauter Suassuna pensou no design para além da beleza. O projeto foi desenvolvido para um casal de idosos, um vivendo com Alzheimer e o outro que atua como cuidador. A proposta leva em consideração as necessidades aliando design, funcionalidade e bem-estar.
Ele conta que todas as cores do ambiente foram escolhidas pensando a partir de estudos em neurociência que dizem que pacientes com demência senil tem menor sensibilidade e lentificação no reconhecimento de cores azuis e verdes. Sendo assim, foi explorado o conceito de colorblock em amarelo e referências em matizes vermelhas — duas cores facilmente reconhecidas pelos idosos, que chamam mais a atenção e ajudam no seu referenciamento e navegação no ambiente.
O projeto foi desenvolvido pensado para um casal de idosos
(foto: Foto: Edgard Cesar)
Comumente, elementos como barras de segurança são feitos em tons neutros, como cinza, prata ou metal, para que fiquem discretos e camuflados. Mas nesse projeto, foi adotado uma abordagem diferente. As barras foram feitas em vermelho de maneira a atrair imediatamente a atenção, facilitando o reconhecimento rápido e oferecendo suporte para o idoso ao caminhar ou se levantar. “A cor vermelha se destaca em relação ao fundo, ajudando o idoso a calcular melhor a distância e a profundidade, garantindo uma pegada segura e precisa”, detalha.
O segredo, segundo Glauter, é pensar em equilíbrio e proporção. “Cores ousadas podem funcionar se usadas em detalhes, mobiliário ou em apenas uma parede de destaque, combinadas com tons neutros que acalmam o olhar. Além disso, o uso de texturas e elementos naturais, como madeira, plantas ou tecidos, ajuda a harmonizar cores fortes, tornando o espaço acolhedor mesmo com tons mais ousados”, explica.
As barras foram feitas em vermelho de maneira a atrair imediatamente a atenção
(foto: Foto: Edgard Cesar)
Explorar cores como o amarelo e o vermelho, tradicionalmente associadas à segurança para idosos, poderia parecer cafona ou ultrapassada e, definitivamente, um grande desafio de combinação. Mas o equilíbrio proporcionou que o tom amarelo da cozinha, por exemplo, junto a uma releitura retrô, tivesse um certo charme que remete à década de 1970, despertando memórias afetivas.
O equilíbrio proporcionou que o tom amarelo da cozinha tivesse um certo charme
(foto: Foto: Edgard Cesar)
Combinação estratégica
Para quem gosta de ousar, e deseja uma casa com muitas cores, o ambiente Podcast, desenvolvido por Angela Feitoza e Maria Carolina Feitoza, pode ser a inspiração que precise. O projeto homenageia a era de ouro do rádio com um estúdio de podcast, e a sua decoração colorida e autêntica contrasta com o minimalismo dominante.
A principal inspiração vem das décadas de 1980 e 1990, por isso as cores se fazem tão presentes. Os anos 1980 foi marcado pelo uso de cores, texturas e iluminação, e, em contrapartida, os anos 1990 vieram com mais clássicos, com formas firmes em evidência. O principal desafio, segundo Angela, foi combinar tudo de forma agradável. “Para isso, usamos o círculo cromático e estudamos a teoria das cores, para entender como cada cor interfere no que sentimos e como reagimos no espaço”, explica.
Para evitar que o ambiente fique sobrecarregado, é essencial entender como as cores são usadas juntas
(foto: Foto: Edgard Cesar)
O ambiente conta com dois pontos de cores em destaque. O primeiro deles, um painel colorido, foi estrategicamente pensado — por ser a primeira parede vista por quem entra, já evidenciando o uso de cores e formas. O segundo, o uso do verde nas demais paredes, combinando com o forro ripado, é a cor base da paleta, pois a partir dela e dos tons do painel, foi escolhida a cor do mobiliário, da decoração e das obras de arte, para compor um ambiente equilibrado e com personalidade.
O painel é a primeira parede a ser vista, já evidenciando o uso de cores e formas
(foto: Foto: Edgard Cesar)
Angela explica que, para evitar que o ambiente fique sobrecarregado, é essencial entender como as cores são usadas juntas. Se o desejo é realçar as combinações, a resposta é usar as complementares, as que são opostas no círculo cromático. Já se o desejado é neutralizar, não evidenciar tanto, a dica é optar pelos tons análogos, que ficam lado a lado no círculo. “Podemos ter paredes neutras, em cinza ou branco, e um mobiliário que segue os mesmos tons, assim teremos um espaço neutro. Mas, nessas mesmas escolhas de paredes, podemos ter móveis laranjas, verdes etc., e essa composição já resulta em pontos de cores em evidência”, detalha Angela.
Mas para quem ainda tem medo de ousar, a arquiteta aconselha escolher uma base neutra para paredes, piso e teto e usar cores em locais pontuais, como em almofadas, tapetes, objetos de decoração, quadros ou vasos de plantas. “Esses são itens que dão vida e aconchego ao espaço e se, eventualmente, você enjoar, são mais fáceis de serem trocados do que refazer uma pintura de parede, por exemplo”, descreve.
O projeto homenageia a era de ouro dos rádios com um estúdio de podcast
(foto: Foto: Edgard Cesar)
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte