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Uma nova pesquisa revelou que o guano dos pinguins na Antártida pode ter um papel importante no clima global. Os excrementos dessas aves liberam amônia na atmosfera que, ao interagir com partículas de enxofre emitidas por algas oceânicas, acelera a formação de pequenas partículas que dão origem a nuvens baixas sobre o oceano. Essas nuvens refletem parte da luz solar, contribuindo para o resfriamento da Terra.
O estudo, liderado por cientistas da Universidade de Helsinque, foi realizado perto da Base Marambio, na Península Antártica. Durante os meses de verão de 2023, os pesquisadores registraram picos de amônia no ar quando o vento soprava de uma colônia de cerca de 60 mil pinguins-de-adélia localizada a 8 quilômetros da estação. Em alguns momentos, a concentração chegou a 13,5 partes por bilhão — mais de mil vezes acima do normal.
Mesmo após os pinguins deixarem a área, os níveis de amônia permaneceram elevados por semanas, sugerindo que o efeito do guano se prolonga. O cientista atmosférico Matthew Boyer, um dos autores do estudo, explica que a amônia, sozinha, não forma novas partículas, mas aumenta significativamente a velocidade do processo químico que as cria. “Com a presença da amônia, a formação pode ser até mil vezes mais rápida”, disse ele.
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Esse mecanismo é especialmente relevante na Antártida, onde há poucas fontes naturais de partículas na atmosfera. A ação conjunta entre a amônia dos pinguins e os compostos oceânicos pode ter um papel importante na manutenção da cobertura de nuvens, cujo comportamento diante do aquecimento global ainda é incerto.
Além do impacto atmosférico, o estudo chama atenção para o papel ecológico dos pinguins. Segundo a ecologista marinha Rose Foster-Dyer, da Universidade de Canterbury, essas aves já enfrentaram mudanças climáticas extremas no passado e sobreviveram migrando para áreas mais favoráveis. Ela acredita que, apesar das ameaças atuais, como o derretimento de gelo e a perda de habitat, algumas espécies podem se adaptar melhor do que se imagina.
Estima-se que cerca de 20 milhões de casais de pinguins vivem em colônias por toda a Antártida. Algumas dessas colônias, com até um milhão de casais, produzem centenas de toneladas de guano por ano — material que, agora se sabe, também interfere na dinâmica do clima global.
O próximo passo, segundo os pesquisadores, é entender melhor se esse fenômeno contribui para o resfriamento geral do planeta ou se, em certas condições, pode até provocar aquecimento local, especialmente quando as nuvens se formam sobre áreas cobertas de gelo, que refletem mais luz que as próprias nuvens.
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