Na tentativa de deixar a casa mais limpa, mais desinfetada ou apenas acelerar o processo, muitos brasileiros ainda cometem um erro que pode ser fatal: misturar água sanitária, ou cloro puro com outros produtos de limpeza. A combinação, que parece inofensiva à primeira vista, libera gases altamente tóxicos que atacam o sistema respiratório em poucos minutos. Foi o que aconteceu com Alexandre Eustáquio Ribeiro, de 31 anos, em Divinópolis, Minas Gerais. Ele morreu ao lavar o banheiro usando cloro misturado em água quente, o que para muitas pessoas é uma coisa normal visto que imaginam que essa mistura potencializa os efeitos desinfetantes do produto.

Em poucos minutos, o rapaz começou a passar mal apresentando um quadro de tontura, falta de ar e precisou ser levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. Contudo, seu quadro piorou e ele teve que ser transferido para o Hospital São João de Deus onde faleceu após uma parada cardiorrespiratória.

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A tragédia reacende um alerta antigo, mas frequentemente ignorado: água sanitária e cloro não devem ser misturados com nada além de água fria. Quando entra em contato com desinfetantes com amônia, detergentes com cloro ou mesmo com vinagre, o produto libera cloramina e gás cloro substâncias perigosas que afetam diretamente os pulmões, os olhos e podem levar à morte por insuficiência respiratória.

Ao ler essa notícia fiquei em choque pois isso é uma coisa bem corriqueira em minha casa porque eu confesso: eu amo uma água sanitária e esse é um produto que nunca deixo faltar aqui. Aliás, eu compro de galão grande e sempre procuro aquele mais forte porque sempre acreditei que essas que são as boas. E é com muito constrangimento que eu confesso também: faço sim mil misturinhas com outros produtos e com água bem quente. Mas já é hora de criar vergonha na cara e aprender o que não fazer para o meu próprio bem e o para o bem da minha família, né?

Dr. Ronaldo Vasque, cardiologista e Diretor do Hospital Santa Clara, explica:

 “No caso da água sanitária é bom saber que ela é um composto à base de hipoclorito de sódio. Em contato com a água quente, ocorre a evaporação e liberação do gás cloro, que pode levar à importante irritação das vias aéreas superiores e inferiores (pulmões), podendo provocar reações alérgicas, que culminam em crises de asma brônquica, edema pulmonar, insuficiência respiratória e até a morte, como infelizmente aconteceu recentemente com um jovem.

Para evitar esse tipo de quadro, o uso desse produto deve ser feito por pessoas competentes, que conheçam os seus riscos, sempre em ambientes muito arejados e com dispositivos de segurança adequados, como luvas e máscaras apropriadas. Nunca devemos fazer misturas entre produtos e, principalmente, com relação à água sanitária, ela nunca deve ser misturada com água quente.

No caso do jovem que foi a óbito, a parada cardíaca ocorreu como consequência da insuficiência respiratória. Por isso, devemos evitar usar esse produto em locais sem ventilação, evitar aspirar o mesmo e deixar todas as portas e janelas abertas no caso do uso, utilizando-se das proteções necessárias já mencionadas aqui.

Ainda é preciso ressaltar que circulam nas redes diversos vídeos promovendo misturas de produtos para uma limpeza mais eficaz. Porém, é preciso prevenir riscos e ler com atenção as recomendações dos fabricantes.

Um levantamento feito pela Fiocruz em parceria com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) mostra que os casos de intoxicação por produtos de limpeza cresceram 32% nos últimos cinco anos, e a maioria dos acidentes acontece dentro de casa. Entre os principais vilões, estão a água sanitária, o desinfetante e o limpador multiuso.

No Brasil, a falta de informação, aliada à cultura do “faça você mesmo” e “invente tudo que puder”, tem contribuído para o aumento desse tipo de ocorrência. Basta uma busca rápida no YouTube ou TikTok para encontrar “truques de limpeza” que ignoram completamente orientações básicas de segurança.

Nas redes sociais, facilmente aparecem centenas de vídeos por mês ensinando “misturinhas caseiras” com produtos de limpeza. Muitas dessas postagens acumulam milhares de visualizações, no caso de vídeos no YouTube, é comum encontrá-los com 10?mil a 80?mil views e centenas de comentários.

Conclusão: O volume de receitas dessas misturinhas é expressivo  e sempre com risco tóxico e potencial letalidade.

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A morte de Alexandre, é uma tragédia que poderia ter sido evitada com um simples aviso no rótulo, campanhas e com mais responsabilidade das plataformas digitais em coibir conteúdos que incentivam práticas perigosas.

É óbvio que todo mundo quer uma casa limpa, livres de bactérias, uma casa desinfetada, mas pra isso existem produtos específicos e não precisamos misturar químicos diversos que podem nos colocar em risco.

“Atendemos em Pronto Socorro vítimas de quadros relacionados a essas ‘misturas milagrosas’ que podem inclusive ser fatais a depender da mescla utilizada e da exposição. Prevenir é sempre o melhor remédio.” finaliza Dr. Ronaldo Vasque 

Fica o alerta: limpar a casa não deve ser um ato de risco. Mas pode se tornar e se tornou, mais uma vez.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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