O Abismo Calipso: O Lixão Mais Profundo do Mediterrâneo

Escondido a 5.112 metros de profundidade, a 60 quilômetros da costa da Grécia, o Abismo Calipso faz parte da Fossa Helênica, uma das regiões mais instáveis geologicamente. Com suas paredes submersas íngremes, essa fenda parecia um lugar inalcançável pela atividade humana, mas a realidade se mostrou diferente: a poluição já chegou até lá.

Um estudo recente revelou 167 objetos no fundo do abismo, dos quais 148 são claramente resíduos marinhos. Sacolas plásticas, garrafas, pedaços de metal e papel se acumulam nesse ambiente inóspito. O achado representa uma das maiores concentrações de lixo já registradas em águas profundas.

Como a Poluição Chegou ao Ponto Mais Profundo do Mediterrâneo?

Pesquisadores apontam múltiplas origens para os resíduos encontrados no Abismo Calipso. Parte do lixo foi arrastada das costas, enquanto outros materiais foram levados por correntes oceânicas e redemoinhos. Há também evidências de despejos ilegais realizados por embarcações.

As correntes marinhas desempenham um papel fundamental nesse processo:

  • Plásticos leves flutuam por longas distâncias antes de se degradarem ou afundarem na fenda.
  • Redemoinhos oceânicos concentram resíduos e os transportam até áreas de acúmulo.
  • A circulação limitada de água no abismo impede que os detritos sejam dispersos.

O Mediterrâneo, cercado por algumas das maiores populações do mundo, tornou-se um reservatório de lixo, com consequências ainda difíceis de mensurar.

Tecnologia Avançada para Explorar um Desastre Oculto

Chegar ao Abismo Calipso é um grande desafio. Para essa missão, os cientistas utilizaram o Limiting Factor, um submarino projetado para suportar pressões extremas em águas profundas. Durante 43 minutos de descida, a equipe percorreu 650 metros em linha reta até atingir o fundo do oceano.

As imagens captadas mostram um cenário desolador: um leito marinho quase sem vida, onde apenas duas espécies foram identificadas. Em contraste, a quantidade de lixo surpreendeu os pesquisadores. Mesmo em uma profundidade extrema, os resíduos humanos parecem ter se tornado parte da paisagem oceânica.

O Mediterrâneo: Um Mar Preso em Sua Própria Poluição

A contaminação do Abismo Calipso não é um caso isolado. O Mediterrâneo é uma das regiões mais afetadas pela poluição marinha. Em 2021, o Estreito de Messina foi classificado como a área com maior densidade de lixo marinho do mundo. Cânions submarinos e fossas oceânicas, em vez de servirem como refúgios naturais, tornaram-se armadilhas onde os resíduos ficam aprisionados.

O problema se agrava pela baixa renovação das águas do Mediterrâneo e pelo intenso tráfego marítimo. Com mais de 150 milhões de pessoas vivendo em suas margens e uma atividade industrial crescente, o mar enfrenta uma crise ambiental sem precedentes.

Como Combater Essa Crise Invisível?

A descoberta no Abismo Calipso serve como um alerta global. A poluição já alcançou os recantos mais remotos do planeta, e conter sua expansão exigirá ações urgentes.

O Tratado Global sobre Plásticos da ONU, ainda em fase de aprovação, pode ser um passo crucial para conter a poluição dos oceanos. No entanto, a realidade é que a maior parte dos resíduos despejados no mar provém de atividades humanas que precisam ser reguladas com mais rigor.

Será tarde demais para salvar o Mediterrâneo? As imagens de um abismo submerso em lixo podem ser o último aviso antes que a poluição tome conta de tudo.

 

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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