Três oficiais morreram e outros 11 ficaram feridos após dois homens-bomba e um atirador atacarem um quartel-general na província paquistanesa de Khyber Pakhtunkhwa, na fronteira com o Afeganistão, nesta segunda-feira, 24. O atentado teve palco enquanto as forças de segurança se preparavam para o desfile matinal no complexo militar, informou o chefe de polícia de Peshawar, Saeed Ahmad.
“Os terroristas envolvidos no ataque de hoje estavam a pé e não conseguiram chegar à área da parada, e uma resposta rápida de nossas forças evitou uma tragédia muito maior”, afirmou ele à agência de notícias Associated Press.
Um dos criminosos detonou os explosivos no portão principal da sede provincial da Polícia Federal, ao passo que os outros dois homens e um cúmplice foram abatidos a tiros por agentes perto do estacionamento do local. Cerca de 150 militares estavam em campo aberto no quartel no momento do ataque, acrescentou Ahmad.
Além disso, ele disse que as autoridades coletaram amostras de DNA dos corpos dos dois homens-bomba para determinar suas identidades e nacionalidades. Operações de busca e apreensão também foram realizadas. Até o momento, não houve reivindicação do atentado, embora o Talibã do Paquistão, Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP), tenha sido responsabilidade por outros incidentes similares no país.
O presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, condenou o ataque, definido por ele como um “ato covarde de terroristas apoiados por estrangeiros”. O coro foi reforçado pelo primeiro-ministro, Shehbaz Sharif, que elogiou a rápida resposta das forças de segurança, de forma a evitar uma tragédia ainda maior, e expressou solidariedade às famílias das vítimas.
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Incidente anterior
O atentado ocorre quase duas semanas após uma explosão matar 12 pessoas e deixar mais de 30 feridas em frente ao prédio do tribunal distrital em Islamabad, capital do Paquistão. Falando a repórteres no local, o ministro do Interior, Mohsin Naqvi, relatou que o terrorista tentou entrar no prédio do tribunal a pé, mas foi impedido. Em seguida, esperou entre 10 e 15 minutos e detonou o dispositivo do lado de fora, perto de uma viatura.
O ataque, a princípio, foi reivindicado pelo Talibã paquistanês, que alegou ter como alvo “juízes e advogados não islâmicos”. Mais tarde, contudo, o porta-voz do TTP negou que o grupo islâmico estivesse por trás do ataque. De todo modo, autoridades locais continuam a culpar os radicais, responsáveis por centenas de ataques no país ao longo deste ano, com foco na polícia e nos serviços de segurança na região fronteiriça de Khyber Pakhtunkhwa.
Na ocasião, Sharif emitiu uma declaração na qual alegava que militantes baseados no Afeganistão cometeram a explosão “a mando da Índia”, descrevendo-a como uma “conspiração nefasta”. Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Randhir Jaiswal, negou “categoricamente as alegações infundadas”. Uma investigação foi aberta.
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Relações conturbadas
A tensão já latente entre Nova Délhi e Islamabad atingiu o pior nível quando ataques aéreos indianos atingiram alvos no Paquistão e na Caxemira paquistanesa em maio. A “Operação Sindoor” foi lançada como uma resposta a um ataque terrorista que matou 26 pessoas, em sua maioria turistas hindus, na região disputada por ambos os países.
No dia 22 de abril, homens armados abriram fogo contra turistas em um resort em Pahalgam. A Índia classificou o massacre como um “ataque terrorista” e acusou o país vizinho de apoiar o grupo responsável pela ação, autodenominado “Resistência da Caxemira”.
O Paquistão, por sua vez, negou qualquer envolvimento e retaliou com o fechamento do espaço aéreo para aviões indianos, o cancelamento de vistos e suspensão das relações comerciais com o vizinho. Nova Délhi, em resposta, retirou-se de um acordo de compartilhamento de águas, do qual a agricultura paquistanesa é altamente dependente.
O combate se ampliou, apesar de esforços diplomáticos para aliviar as tensões. Houve relatos de bombardeios ininterruptos e tiros ao longo da fronteira durante os dias que se seguiram, bem como relatos de ataques do Paquistão à cidade de Jammu, capital da Caxemira indiana, que, junto a outras cidades, ficou completamente sem energia. Explosões também atingiram cidades no lado paquistanês do território em disputa, danificando algumas casas.
Mas, no início de maio, um acordo de cessar-fogo entrou em vigor por mediação de Washington. Tanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quanto autoridades paquistanesas creditaram ao secretário de Estado americano, Marco Rubio, e ao vice-presidente, J.D. Vance, a mediação da paz entre os dois países, após horas de intensas negociações.
