Por Fernando Goldsztein, fundador da The Medulloblastoma Initiative, conselheiro da Children’s National Foundation e MBA – MIT, Sloan School of Management
“O poder público e o empresariado gaúcho estão mobilizados contra um desastre exposto a céu aberto: a agonia da malha ferroviária gaúcha.” Assim se inicia a reportagem recente do jornalista Humberto Trezzi, de Zero Hora.
Não há dúvidas de que um país com dimensões continentais como o Brasil necessita do trem para cobrir as suas enormes distâncias. Outro dia, viajei de trem de Washington a Chicago. Logo na saída cruzamos com alguns comboios. Um deles com 172 vagões. Eram vagões duplos – um sobre o outro. Um vagão pode carregar a carga de dois ou mais caminhões e, sendo duplo, carrega de quatro. Portanto, a carga daquele comboio era equivalente à de 700 caminhões.
O RS, entretanto, mantém-se parado nos trilhos enferrujados do passado
Imaginem que, não fosse o trem, estariam chegando 700 caminhões em Washington! E mais: a diferença do custo do frete é astronômica – dois maquinistas versus 700 motoristas. Isso sem falar nos custos de manutenção, pneus, seguros, atrasos, e por aí vai. E as vantagens não ficam apenas no custo: o trem polui muito menos (uma locomotiva versus 700 motores), reduz o número de mortes nas estradas e, de quebra, desafoga o trânsito nos acessos às cidades.
O Brasil, finalmente, compreendeu que, se quiser ser competitivo, precisará investir em locomotivas, vagões e trilhos. Foi o que ocorreu em 2021 com a aprovação da lei do Marco Legal das Ferrovias, que possibilitou que empresas construam e operem ferrovias com menos burocracia. O Marco Legal facilitou o uso de trechos ociosos, atraiu investimento privado e aumentou a competição no setor. A lei trouxe segurança jurídica, clareza regulatória e regras modernas para a expansão da malha.
O RS, entretanto, mantém-se parado nos trilhos enferrujados do passado. O nosso sistema ferroviário segue em completa estagnação, decorrente de contratos antigos ainda em vigor, falta de investimentos privados e subutilização – e até abandono – da malha. É preciso mobilização do governo e da sociedade civil para que haja uma solução definitiva para o problema. Precisamos destravar o nosso modal ferroviário, modernizar o Estado e avançar!
O Rio Grande do Sul não pode se dar ao luxo de perder (mais) esse trem.
