Empresa informa que vistoria realizada esta semana não encontrou “qualquer desvio” às leis ambientais
Os vizinhos da fábrica da Ferpinta na Carregosa, Oliveira de Azeméis, queixam-se de ruídos insuportáveis, de noite e de dia. Reformados com casa nos lugares de Arrifaninha e Ínsua relataram à nossa reportagem que acordam de madrugada, sobressaltados. Uma família que vive paredes-meias com a fábrica, atribui à “vibração” com origem na atividade industrial rachadelas e outros danos na sua propriedade. Há mais de dez anos que esta família se queixa a múltiplos departamentos do Estado, sem grandes resultados práticos. Conseguiu apenas a recolocação de uma balança para camiões e uma cerca de som entre as propriedades, que “melhorou mas não resolveu o problema”.
A Ferpinta responde que não assiste aos vizinhos qualquer razão nos protestos quanto ao ruído e à alegada contaminação dos seus campos, apesar das imagens de água com aspeto ferroso e oleoso a escorrer da fábrica para o rio Ínsua. A empresa afirma-se orgulhosa da sua “conexão com a comunidade” e da certificação ambiental conquistada em 2010.
É a própria Ferpinta a revelar o resultado da inspeção realizada, na terça e na quarta-feira passadas, pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), da Unidade de Saúde Pública, das Câmaras Municipais de Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). “Nessa vistoria foram analisadas as componentes ambientais de ruído ambiente, de águas residuais e emissões atmosféricas, sem qualquer desvio detetado nas atividades licenciadas”, informa a Ferpinta, em comunicado.
Licença industrial em renovação
A vistoria dos dias 18 e 19 de março foi desencadeada pela própria empresa, em 13 de agosto de 2024, no âmbito do processo de renovação obrigatória da licença de exploração da unidade industrial da Carregosa. “O agendamento prévio dessa vistoria decorreu e decorre da lei, jamais podendo ser interpretado como um ato de tolerância dado ao vistoriado”, refere o comunicado.
A metalomecânica, com negócios em mais de 50 países, invoca em sua defesa outra inspeção, realizada em 10 de janeiro pela Administração Regional Hidrográfica do Centro. Também esta entidade não encontrou “qualquer infração ao regime de utilização dos recursos hídricos”.
A empresa refugia-se nesta folha limpa impecável de resultados para se remeter novamente ao silêncio. “Após esta nota, a empresa não fará mais comentários públicos sobre o assunto”, informa o comunicado.
A Ferpinta recusa, assim, o pedido da CNN Portugal para uma entrevista, deixando assim por esclarecer quais as suas justificações para dois problemas documentados nas nossas reportagens: o aspeto suspeito da água que escorre das suas instalações; e as queixas dos vizinhos, quanto ao ruído noturno e à presumível contaminação dos seus campos e produtos agrícolas.