O debate sobre a instalação de data centers no Brasil evidenciou a incapacidade de o sistema elétrico absorver a energia renovável disponível para a geração, segundo o deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ).
Ele destaca que os data centers exigem fornecimento 24 horas, 365 dias por ano — algo que as fontes solar e eólica não conseguem garantir sozinhas. “É ilusão achar que você vai energizar data center com solar ou eólica. Isso não existe. Você precisa de gás, biogás, térmica, até nuclear. Senão, é balela”, disse Lopes durante o 3° Brasília Summit.
Lopes propôs emenda à Medida Provisória (MP) nº 1304, incluindo outras fontes despacháveis para o suprimento de data centers e criticou a falta de seriedade no tratamento das MPs 1304 e 1307.
“As MPs são um desastre. Falam em energia renovável como se fosse suficiente. E não é. Falta base, falta sistema. É preciso tratar com realismo”, complementou.
Já o senador Eduardo Gomes (PL-SE), defendeu uma abordagem integrada em novos textos pelo Congresso. Para o parlamentar, a regulamentação atual é fragmentada, o que dificulta a atração de grandes empreendimentos.
“Se unirmos energia, IA e data center numa política coerente, podemos aprovar uma legislação robusta ainda este ano”, disse.
A Comissão Mista da MP 1.304 já foi instalada e tem como presidente o deputado Fernando Coelho Filho. Em evento no início de setembro, o parlamentar apontou que temas como a instalação de baterias e data centers deve aparecer na sua, até como parte do debate em torno do curtailment. O texto perde a validade em 7 de novembro.
Já a MP 1.307, altera a Lei das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) e os auxílios de transferência de renda praticados pelo governo, com benefícios a data centers instalados em zonas de exportação.
Liderança regional, irrelevância global
O Brasil tem 192 data centers, sendo 90% concentrados em São Paulo. Apesar da liderança do país na América Latina, a região representa apenas 2% do total mundial. Os dados foram apresentados pelo presidente da Conexis, Marcos Ferrari, detalhou o estado atual da infraestrutura digital brasileira.
“O Redata é um bom começo, mas precisamos de uma política coordenada que promova o Brasil como hub digital da América Latina,” destacou Ferrari.
Segundo o executivo, nos Estados Unidos, cada US$ 1 investido em data centers gera US$ 2,70 em valor agregado na economia. Ele defendeu que a política para IA e data centers deve receber investimentos não só em armazenamento, mas em processar dados internamente, trazendo o verdadeiro diferencial econômico.
“O grande valor do data center é o processamento. E isso exige segurança jurídica, energia garantida e incentivos”, completou.
Neste sentido, o deputado Júlio Lopes ainda apontou que os EUA já enfrentam gargalos energéticos e estão construindo 40 GW em nova capacidade para atender seus próprios data centers.
“Temos 85% da matriz limpa. Temos energia, água, biogás, e até potencial nuclear. Só falta o marco legal e segurança jurídica, disse Lopes.