Após grande expectativa, a tirzepatida, comercializada como Mounjaro, já está disponível no Brasil desde maio. Produzido pela Eli Lilly, o medicamento é considerado um dos mais potentes para o tratamento de obesidade e diabetes tipo 2. A aprovação pela Anvisa ocorreu em 2023 para diabetes, mas só agora o remédio chega às farmácias, gerando debates sobre quem realmente se beneficiará dessa inovação na medicina metabólica.

O entusiasmo em torno da tirzepatida se justifica por sua atuação inovadora. O fármaco combina a ação do GLP-1 com a do GIP, hormônios intestinais que regulam o apetite e a glicemia. Estudos indicam que a tirzepatida pode levar a perdas de peso superiores a 20% em adultos com obesidade, superando os resultados obtidos com a semaglutida (Ozempic e Wegovy).

Entretanto, o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, expressa otimismo cauteloso. “Acreditamos que esses medicamentos serão o futuro do tratamento da obesidade, da diabetes e de várias outras doenças”, afirma Rosenbaum, ressaltando a esperança de que, com o tempo, se tornem mais acessíveis.

Contudo, os custos financeiros e sociais do uso da tirzepatida ainda são incertos. Pacientes, médicos e autoridades buscam equilibrar o potencial terapêutico com os riscos e a prescrição responsável. Nesse cenário, a perda de peso pode não ser o único fator a ser considerado.

Os análogos de GLP-1 revolucionaram o tratamento da obesidade e da diabetes ao explorar o papel dos hormônios intestinais. O GLP-1, produzido em resposta à ingestão de alimentos, estimula a secreção de insulina, inibe o glucagon e prolonga a saciedade. A tirzepatida representa um avanço significativo nessa classe de medicamentos.

A eficácia da semaglutida ganhou destaque com a publicação do estudo STEP 1 no New England Journal of Medicine, em 2021. O estudo revelou que adultos com obesidade perderam, em média, 14,9% do peso corporal com o uso semanal de semaglutida. Além da perda de peso, estudos apontam para a redução do risco cardiovascular com o uso de semaglutida.

Outros benefícios potenciais incluem melhorias em casos de apneia do sono, esteatose hepática e osteoartrite. Pesquisas também investigam os efeitos na saúde mental, com um estudo recente associando o uso de agonistas do receptor de GLP-1 a um menor risco de demência e comprometimento cognitivo.

Um estudo apresentado no Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) mostrou que o uso de análogos de GLP-1 está associado a um risco 7% menor de desenvolver cânceres ligados à obesidade. Embora sem comprovação de causalidade, os achados foram considerados “reconfortantes” pelos autores.

“A medicina tem recebido essas descobertas com entusiasmo, mas também com cautela”, pondera o endocrinologista Carlos André Minanni, do Einstein. Ele enfatiza a importância de estudar cuidadosamente cada novo uso para garantir segurança e eficácia, destacando a entrada em uma nova fase de tratamentos mais integrados.

Embora a maioria dos pacientes tolere bem os análogos de GLP-1, os medicamentos não estão isentos de riscos. Efeitos gastrointestinais como náusea, diarreia e vômito são comuns, mas geralmente melhoram com o tempo. O acompanhamento médico é fundamental para ajustar a dose e avaliar a tolerância.

Os efeitos a longo prazo ainda são desconhecidos, e a segurança em populações específicas, como gestantes e idosos frágeis, é uma preocupação. Além disso, a perda de massa muscular é um risco, especialmente em indivíduos que não associam o tratamento à ingestão adequada de proteína e a exercícios de resistência.

A Anvisa anunciou que passará a exigir retenção de receita para fármacos à base de semaglutida e tirzepatida, numa tentativa de coibir a automedicação e o aumento indevido de dose. A medida visa reduzir o risco de reações adversas e entrará em vigor em breve.

O alto custo dos medicamentos, que podem ultrapassar R$ 4.000 por caixa, é um obstáculo significativo. Isso mantém o tratamento fora do alcance da maior parte da população brasileira, criando desigualdades no acesso à saúde. O debate sobre a inclusão desses medicamentos no SUS continua em aberto.

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) negou pedidos de incorporação da semaglutida e da liraglutida, alegando alto impacto orçamentário. A decisão mantém o tratamento da obesidade fora do SUS, mesmo nos casos graves e com risco elevado de complicações.

Fonte: http://www.metropoles.com

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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