O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), lançou o primeiro Manual Técnico de Atendimento a Indígenas Expostos ao Mercúrio. A publicação é resultado de uma articulação interinstitucional com pesquisadores, especialistas, lideranças indígenas e órgãos federais, e marca uma nova fase da resposta do Estado brasileiro aos impactos da mineração ilegal sobre os povos originários.
“Os povos indígenas são, certamente, os mais impactados com a presença do garimpo ilegal e do mercúrio nos territórios. Atualmente, vivemos o momento de proposição de uma nova Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, baseada na diretriz do cuidado integral. Este manual é mais uma resposta do Estado brasileiro à essa ameaça silenciosa”, afirma o secretário da Sesai, Weibe Tapeba.
Com a publicação, é a primeira vez que o Brasil consolida diretrizes clínicas e operacionais específicas voltadas ao atendimento de indígenas expostos à contaminação por mercúrio. Diferente de cartilhas informativas já existentes, o manual reúne orientações práticas para a atuação direta das Equipes Multiprofissionais de Saúde Indígena (EMSI) nos territórios.
A construção do documento durou dois anos e envolveu parceiros como Fiocruz, Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Secretaria de Estado de Saúde do Pará (SESPA), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), além da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).
O que o manual traz
A exposição ao mercúrio pode provocar uma ampla gama de efeitos adversos à saúde, que vão desde alterações neurológicas e cognitivas, até prejuízos no neurodesenvolvimento infantil, além de possíveis danos reprodutivos e genéticos. Os impactos são particularmente graves em gestantes e crianças, que compõem os grupos mais vulneráveis a esse tipo de contaminação.
Voltado principalmente aos profissionais de saúde que atuam nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIS), o manual orienta desde a identificação de casos de exposição ao mercúrio, passando pela notificação adequada nos sistemas de vigilância, até o encaminhamento para serviços de referência e a comunicação dos resultados de exames. Além disso, apresenta diretrizes práticas que fortalecem o cuidado integral e qualificado às populações indígenas.
Também oferece recomendações específicas para populações mais vulneráveis, como gestantes e crianças.
Formação
Com um total de mil exemplares impressos, a distribuição também será feita de forma digital juntamente com ações de sensibilização nas comunidades. Materiais adaptados para línguas indígenas, como Yanomami e Munduruku, também serão produzidos.
Até o momento, profissionais dos DSEI Yanomami, Rio Tapajós, Amapá e Norte do Pará já participaram de formações específicas por meio de cursos de atualização profissional, com carga horária de 40 horas, além de rodas de conversa e eventos técnico-científicos sobre o tema. Outras edições dos processos formativos estão previstas ao longo de 2025.
Leidiane Souza
Jornalista – SESAI/MS