Ao todo, foram encontradas 110 partículas de microplásticos nas placentas e 119 nos cordões umbilicais. Foto: Pixabay.

Uma pesquisa inédita realizada em Maceió (AL) detectou a presença de microplásticos em placentas e cordões umbilicais de recém-nascidos. O estudo, liderado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), é o primeiro do tipo na América Latina e apenas o segundo no mundo a comprovar a presença dessas partículas nos cordões. Os resultados foram divulgados nesta sexta-feira (25) pela revista Anais da Academia Brasileira de Ciências.

A investigação analisou amostras de dez gestantes atendidas no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes e no Hospital da Mulher Dra. Nise da Silveira, ambos na capital alagoana. As amostras foram examinadas com a técnica de espectroscopia Micro-Raman, capaz de identificar a composição química de moléculas com precisão.

Ao todo, foram encontradas 110 partículas de microplásticos nas placentas e 119 nos cordões umbilicais. As substâncias mais identificadas foram o polietileno, amplamente utilizado em embalagens descartáveis, e a poliamida, presente em tecidos sintéticos.

“Oito em cada dez participantes tinham mais partículas no cordão umbilical do que na placenta, então eles [microplásticos] passam em uma quantidade grande e estão indo para os bebês antes mesmo de nascerem”, afirmou Alexandre Urban Borbely, líder do grupo de pesquisa em Saúde da Mulher e da Gestação na UFAL.

Borbely estuda a contaminação por microplásticos na gestação desde 2021. Um levantamento anterior, em parceria com a Universidade do Havaí em Manoa, já havia identificado essas partículas em placentas de mulheres havaianas. A pesquisa revelou que a contaminação aumentou com o tempo, sendo detectada em 60% das amostras colhidas em 2006, 90% em 2013 e 100% em 2021.

A continuidade da parceria permitiu a realização do estudo em Maceió, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Apesar de todas as amostras brasileiras estarem contaminadas, os pesquisadores observaram menor presença de aditivos químicos em comparação às amostras norte-americanas.

“Buscamos mulheres atendidas pelo SUS, com uma condição socioeconômica mais vulnerável, porque a maioria dos estudos é feita em países desenvolvidos. Então, quisemos mostrar a realidade da nossa população”, explicou Borbely.

De acordo com o pesquisador, é difícil identificar a origem exata da contaminação, já que os microplásticos estão presentes até no ar. No entanto, ele aponta o consumo de frutos do mar, especialmente moluscos filtradores, e a ingestão de água mineral em galões expostos ao sol como possíveis fontes.

O próximo passo da pesquisa será ampliar a amostragem para 100 gestantes e investigar possíveis relações entre a presença de microplásticos e complicações gestacionais ou problemas de saúde nos recém-nascidos. Para isso, está em fase de implantação o Centro de Excelência em Pesquisa de Microplástico, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia. Os resultados dessa nova etapa devem ser divulgados em 2027.

“A preocupação de todo mundo que trabalha nessa área hoje é tentar entender o que essa contaminação está causando, porque isso é muito sério. Toda essa geração que está vindo já nasce exposta a esses plásticos dentro do útero”, alerta Borbely.

Ele também citou estudos que associam microplásticos na placenta a casos de parto prematuro e alterações metabólicas. “Publicamos um estudo com células e tecidos humanos mostrando que os plásticos de poliestireno passam com facilidade pela barreira placentária e causam alterações no metabolismo dessa placenta e na produção de radicais livres, o que também é um indício de que vai afetar o desenvolvimento do bebê”.

Para Borbely, o problema exige políticas públicas. “O Brasil não tem uma regulamentação para plástico. O mais importante aqui é a ação que vem de cima, do governo, de regular quem está produzindo o plástico: como deve ser essa produção, o descarte de plásticos, a implantação de filtros nessas indústrias. Se a gente conseguir reduzir no ambiente, consequentemente vamos reduzir o que fica na gente”.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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