Esquema de fraude do PCC no setor de combustíveis estaria por trás das mortes por ingestão de metanol, denuncia associação

Os casos de intoxicação por metanol em bebidas alcóolicas preocupam as autoridades em São Paulo, que já registrou duas mortes neste mês. A contaminação levantou suspeita de envolvimento da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), responsável por esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis.
Em nota, a ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação) apontou a importação irregular da substância como possível causa das intoxicações. O PCC foi alvo de uma megaoperação em agosto, após o MPSP (Ministério Público de São Paulo) identificar a adulteração de combustíveis com metanol em postos ligados à facção.
“Ao ficar com tanques repletos de metanol lacrados e distribuidoras e formuladoras proibidas de operar, a facção e seus parceiros podem eventualmente ter revendido tal metanol a destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores”, suspeita a ABCF.

Segundo a associação, o setor de bebidas foi o mais prejudicado pelo mercado ilegal no último ano, com perdas estimadas em R$ 88 bilhões. Foram R$ 29 bilhões em impostos sonegados e R$ 59 bilhões em perdas de faturamento das indústrias.
Quais são os perigos do metanol em bebidas? Casos de contaminação disparam em SP
Conforme a CNN, a intoxicação por metanol em bebidas alcóolicas provocou a morte de um homem de 54 anos na capital paulista, em 15 de setembro, e de outro homem de 38 anos em São Bernardo do Campo, no dia 18 de setembro.
O metanol é uma substância líquida, inflamável e incolor, utilizada como solvente industrial e na fabricação de combustíveis, plásticos e tintas. É altamente tóxico e pode levar à morte se consumido, mesmo em doses pequenas.
Os casos graves em São Paulo já provocaram cegueira e coma nas vítimas. O estado registrou nove casos no último mês, considerado um número “fora do padrão para o curto período de tempo”, conforme o Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) de Campinas.

A unidade costuma registrar ocorrências de “ingestão deliberada em contextos de abuso de substâncias, frequentemente associada à população de rua”. Contudo, os novos casos se deram em “cenas sociais de consumo alcóolico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, whisky, vodka, entre outros”.
O MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública) divulgou recomendações urgentes a estabelecimentos e consumidores no sábado (27). Os comerciantes devem adquirir bebidas somente de fornecedores formais, com CNPJ ativo, e desconfiar de preços muito abaixo do mercado, lacres violados, rótulos modificados e odor estranho.
É preciso ficar atento aos sintomas, como visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, tontura e perda de consciência. Em caso de suspeita de metanol em bebidas, as vendas devem ser interrompidas imediatamente, com notificação à Vigilância Sanitária e ao Disque-Intoxicação (0800 722 6001 – Anvisa).