A pauta sobre a irradiação de mercúrio em peixes da Baía de Guanabara voltou a acender um alerta para a saúde de pescadores e moradores de comunidades costeiras do Rio de Janeiro. Um estudo realizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) identificou a presença do metal pesado em diferentes espécies de peixes consumidas na região e apontou sinais de exposição elevada entre trabalhadores da pesca artesanal.
A pesquisa analisou oito espécies de peixes coletadas em pontos como Magé, Itaboraí e Ilha do Governador, além de amostras de cabelo de pescadores, método reconhecido internacionalmente para medir exposição crônica ao mercúrio. Embora as concentrações encontradas nos peixes estejam dentro dos limites permitidos pela legislação brasileira, os pesquisadores alertam que o consumo frequente de determinadas espécies pode representar risco à saúde ao longo do tempo.
Entre os peixes analisados, a sardinha apresentou níveis muito baixos de contaminação, enquanto o robalo registrou as maiores concentrações. Segundo os responsáveis pelo estudo, a recomendação não é eliminar o consumo de pescado, mas adotar um rodízio entre espécies, evitando a ingestão repetida daquelas que concentram mais mercúrio.
A situação se torna mais preocupante quando observados os resultados das análises em humanos. Em parte dos pescadores avaliados, os níveis de mercúrio encontrados no cabelo ultrapassaram os limites indicados por organismos internacionais de saúde, o que indica exposição contínua ao metal pesado, possivelmente relacionada ao consumo frequente de peixe como principal fonte de proteína.
A Baía de Guanabara sustenta milhares de famílias que dependem diretamente da pesca artesanal. Ao mesmo tempo, a região sofre há décadas com poluição causada por atividades industriais, lançamento de esgoto doméstico, resíduos sólidos e intenso tráfego marítimo, fatores que contribuem para a contaminação ambiental e para o acúmulo de substâncias tóxicas na cadeia alimentar.
De acordo com especialistas, a exposição excessiva ao mercúrio pode causar danos neurológicos, como tremores, perda de memória, insônia, fraqueza muscular e, em casos mais graves, consequências irreversíveis à saúde. Gestantes e fetos estão entre os grupos mais vulneráveis aos efeitos do metal pesado.
Os pesquisadores da UFF destacam que os resultados do estudo serão apresentados diretamente às comunidades pesqueiras, de forma acessível, para orientar práticas mais seguras de consumo. A intenção é garantir que os pescadores tenham informação suficiente para proteger a própria saúde sem abrir mão de uma atividade essencial para sua subsistência.
O levantamento reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à recuperação ambiental da Baía de Guanabara e ao monitoramento contínuo da qualidade dos alimentos consumidos pelas populações que dependem diretamente do ecossistema local. A preservação do meio ambiente, segundo os pesquisadores, é fundamental não apenas para a biodiversidade, mas também para a saúde e a dignidade das comunidades que vivem da pesca.
