Um estudo inédito da Universidade de Melbourne revelou que marsupiais australianos estão contaminados com substâncias químicas sintéticas conhecidas como “forever chemicals” — compostos persistentes que têm sido associados a graves impactos na saúde de animais e seres humanos.

A investigação, conduzida por investigadores do Australian Laboratory for Emerging Contaminants (ALEC) e da Melbourne Veterinary School, analisou a presença de substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS) em gambás-de-cauda-anelada (ringtail possum) e gambás-de-cauda-espessa (brushtail possum) da região metropolitana de Melbourne. Os resultados foram publicados na revista científica Science of the Total Environment.

Quase todos os exemplares estavam contaminados

Segundo a investigadora principal, a doutoranda Ellis Mackay, todos os exemplares examinados apresentavam vestígios de PFAS nos seus fígados.

“Encontrámos 45 tipos diferentes de PFAS e níveis medianos entre os mais elevados alguma vez registados em pequenos mamíferos terrestres a nível mundial”, afirmou Mackay.

Os animais analisados tinham sido eutanasiados por motivos de bem-estar ou recolhidos após a morte em circunstâncias não relacionadas com o estudo.

Mackay sublinha que, embora a contaminação por PFAS seja amplamente estudada em espécies aquáticas, pouco se sabe sobre os efeitos destas substâncias em animais terrestres.

“Estes marsupiais funcionam como sentinelas. Estão a alertar-nos de que a contaminação generalizada dos ecossistemas australianos com PFAS é altamente provável”, acrescentou.

Químicos persistentes e de uso quotidiano

As substâncias PFAS têm sido utilizadas durante décadas em inúmeros produtos: desde espumas de combate a incêndios e panelas antiaderentes, até roupas impermeáveis e cosméticos. São conhecidas pela sua resistência à degradação, podendo persistir no ambiente durante décadas.

De acordo com o inquérito nacional de saúde mais recente do Australian Bureau of Statistics, mais de 98% dos australianos testados apresentavam PFAS no sangue, revelando a dimensão da exposição humana a estas substâncias.

Riscos sérios para a saúde

O coautor do estudo e líder do ALEC, Associado Professor Brad Clarke, alerta que algumas formas de PFAS estão associadas a efeitos graves na saúde, incluindo cancro, problemas de desenvolvimento e disfunções do sistema imunitário.

“Produzimos e utilizamos centenas de milhares de químicos sintéticos em todo o mundo, muitas vezes sem compreender plenamente os seus impactos a longo prazo”, sublinhou Clarke.

O investigador defende a necessidade de estudos mais aprofundados sobre como diferentes paisagens influenciam a exposição dos animais a contaminantes ambientais e sobre os efeitos biológicos dessas substâncias.

“É provável que venhamos a observar impactos crescentes na saúde resultantes da contaminação dos ecossistemas e das cadeias alimentares com químicos sintéticos. É essencial reforçar o controlo da sua produção e utilização”, concluiu.

Fonte: Universidade de Melbourne — Science of the Total Environment
Crédito fotográfico: Roy D. Mackay

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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