Em conversa com Manuel Malva da Milvoz – Associação de Protecção e Conservação da Natureza, conseguimos compreender a gravidade do desastre e os desafios para a recuperação ambiental da biorreserva do Vale da Aveleira, na Serra da Lousã.
Entre as perdas, destacam-se os matos de urze, bosques mediterrânicos com azinheiras e medronheiros, e castanheiros centenários situados nas encostas mais vulneráveis. Apenas algumas áreas menos expostas, como bosques de azereiro e zonas ribeirinhas, conseguiram resistir.
Segundo o entrevistado, o incêndio atingiu cerca de 80% da área do bosque, afetando especialmente habitats secos e de elevada sensibilidade.
A intensidade do fogo foi exacerbada pela presença de espécies invasoras, nomeadamente as acácias, que facilitaram a propagação rápida das chamas. Temperatura acima de 40 graus e ventos fortes, tornaram a situação praticamente incontrolável.
Os efeitos sobre os cursos de água e microclimas da serra serão sentidos por anos. O solo, fragilizado, deverá sofrer erosão intensa nas primeiras chuvas, comprometendo a qualidade da água e o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos. Manuel Malva adianta o que deve ser feito de imediato.
Em comunicado A Milvoz destaca a responsabilidade de “falhas históricas na gestão florestal e na prevenção de incêndios”. Anos de cortes rasos e descuido na proteção dos bosques nativos, aliados à falta de controlo de espécies invasoras, contribuíram para a vulnerabilidade da serra. A associação alerta ainda que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas “não tem atuado de forma eficaz na prevenção e gestão das invasoras”, o que agrava a situação.
Quanto à intervenção por parte da Milvoz, Manuel Malva explica que a atuação será limitada às zonas ecologicamente mais valiosas, começando pela Biorreserva Integral do Vale da Aveleira, com prioridade na regeneração de áreas de maior valor biológico.
A sociedade civil pode apoiar, acompanhando as iniciativas e respondendo aos apelos de entidades envolvidas no restauro da serra. Manuel Malva deixa um apelo à colaboração dos cidadãos.
Para prevenir futuros incêndios, a associação reforça a necessidade de planeamento florestal estruturado, mosaicos de floresta e agricultura, pastorícia e diversidade de usos na paisagem. A recuperação e proteção das áreas vulneráveis exigem coragem política, medidas multidisciplinares e ações coordenadas ao longo de vários anos.
Este incêndio é um alerta: a preservação da Serra da Lousã depende de um compromisso sério com a sustentabilidade, a biodiversidade e a prevenção.
Fotografia: Facebook da Milvoz