O acidente nuclear de Chernobyl, em 1986, deixou um rastro de contaminação e um cenário hostil para a vida. Ainda assim, uma população de cães descendentes de animais domésticos abandonados sobreviveu — e evoluiu. Um estudo recente revelou que esses cães apresentam mais de 390 diferenças genéticas em relação a outros, além de uma resistência notável ao câncer. As descobertas podem mudar a forma como entendemos a adaptação em ambientes extremos.

Uma população moldada pelo isolamento e pela seleção natural

© X- @Sifuentes

Pesquisadores analisaram 302 cães entre 2017 e 2019, coletando amostras de sangue em três locais: a própria usina nuclear, a cidade de Chernobyl (15 km) e Slavutych (45 km), onde muitos trabalhadores se instalaram após o acidente.

O estudo identificou três populações geneticamente distintas.

  • Usina nuclear: baixa diversidade genética e alta similaridade interna, resultado de um “efeito fundador” após o desastre.
  • Cidade de Chernobyl: maior diversidade, sinal de mistura populacional.
  • Slavutych: presença marcante de haplótipos de raças modernas como labrador e yorkshire, sugerindo introdução recente de cães domésticos.

A análise revelou 15 famílias distintas, com uma delas abrangendo indivíduos das três áreas. Embora compartilhem ancestrais com raças como pastor-alemão, boxer e rottweiler, os cães da zona de exclusão têm uma assinatura genética própria.

Mais de 390 genes diferentes e resistência ao câncer

Apesar de viverem expostos a níveis de radiação seis vezes maiores que o limite humano, os cães não apresentam mutações típicas causadas por radiação. As diferenças genéticas identificadas estão ligadas a reparação de DNA e resistência imunológica, mas parecem resultar de seleção natural e isolamento, não de mutação direta.

Pesquisas anteriores com lobos da região, lideradas por Cara Love, mostraram adaptação semelhante: baixa incidência de câncer e maior resistência a doenças. Embora não sejam totalmente imunes, tanto cães quanto lobos demonstram uma sobrevivência incomum em condições letais. Os cientistas comparam essa adaptação ao efeito protetor observado em humanos após radioterapia, só que, neste caso, herdado e aprimorado ao longo de gerações.

Implicações para ciência, medicina e até missões espaciais

Esses cães representam um modelo vivo de adaptação a ambientes contaminados, fornecendo informações que podem influenciar:

  • Medicina humana, ao estudar genes ligados à resistência ao câncer.
  • Saúde ambiental, ao compreender impactos de longo prazo da radiação.
  • Exploração espacial, simulando respostas biológicas a ambientes hostis e isolados.

O estudo também ajuda a desmistificar a ideia de que radiação sempre gera mutações visíveis, mostrando que a evolução pode ser um processo sutil, moldado por múltiplos fatores.

Próximos passos da pesquisa

A equipe agora investiga efeitos epigenéticos — alterações na expressão dos genes sem mudanças na sequência de DNA — e analisa o sistema imunológico e a presença de parasitas nesses animais. Também pretende expandir o estudo para outras espécies da região, buscando padrões comuns de resiliência.

Se confirmados, esses resultados não só vão aprofundar o conhecimento sobre evolução em ambientes extremos, mas também poderão inspirar estratégias de proteção para humanos expostos a radiação, seja em acidentes nucleares ou no espaço.

 

[ Fonte: Infobae ]

 

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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