A análise realizada pelos bolsistas revelou que a concentração de lixo é maior próximo a bares e áreas com maior circulação de visitantes, sugerindo uma forte relação entre atividades recreativas e descarte de resíduos
A presença de centenas de resíduos nas margens da Lagoa de Cima, especialmente plásticos que persistem no ambiente, motivou a criação de um projeto escolar para mapear e enfrentar essa contaminação. “Avaliação da Contaminação por Macro e Mesolixo na Lagoa de Cima” é um projeto ambiental da Escola Municipal Custódio Siqueira, aprovado pelo edital Mais Ciência na Escola, que busca entender como a urbanização e o turismo contribuem para o acúmulo de resíduos.
Coordenado pela professora Natalia Neto dos Santos Nunes, o projeto envolve os bolsistas Kauan Rangel de Oliveira, Tacha Rebeca Júlio da Silva Lemos e Yasmim Viana da Silva Cordeiro, e já apresenta resultados significativos. Foram coletados 293 itens, sendo 243 deles plásticos. Entre os objetos mais frequentes estão copos descartáveis (52 unidades) e tampinhas PET (27 unidades), evidenciando a predominância de resíduos de uso imediato nas margens da lagoa. (Leia mais abaixo)
A análise realizada pelos bolsistas revelou que a concentração de lixo é maior próximo a bares e áreas com maior circulação de visitantes, sugerindo uma forte relação entre atividades recreativas e descarte de resíduos. A área de maior fluxo turístico apresentou mais itens e maior diversidade de lixo do que outros pontos situados em região menos urbanizada.
A coleta seguiu protocolo padronizado: faixas de 100 metros por 1 metro demarcadas nas margens, amostragem manual, triagem em laboratório, fotografia e medição de cada item. A classificação dos resíduos seguiu o protocolo da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), agência científica americana que estabelece padrões internacionais para monitoramento e pesquisa ambiental em oceanos, rios e lagos. A área de cobertura dos resíduos foi estimada com o auxílio do programa ImageJ, software livre que permite analisar imagens digitais e medir a dimensão ou a superfície de objetos em fotos. Todos os dados foram organizados em planilhas para analisar densidade e distribuição dos resíduos. (Leia mais abaixo)
Os pesquisadores alertam para o risco dos plásticos se fragmentarem em micro e nanoplásticos, processos que aumentam os impactos sobre a fauna e a qualidade da água e que ainda são pouco compreendidos em ambientes aquáticos. Esses fragmentos podem entrar na cadeia alimentar e causar danos persistentes à biodiversidade local.
“Nossa meta é transformar os achados em ações concretas: identificar fontes, envolver a comunidade e propor medidas que impeçam o descarte inadequado”, declarou Natalia Neto. Ela destacou também o papel educativo do trabalho, tanto para os alunos quanto para a população local. (Leia mais abaixo)
Para Carla Salles, coordenadora do Mais Ciência na Escola, o projeto demonstra a importância de aproximar ensino e sociedade: “Projetos como este mostram que a investigação científica nas escolas pode gerar conhecimento útil para a gestão local e fortalecer a consciência ambiental.” O Mais Ciência na Escola é uma iniciativa da Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia (Seduct), voltada ao apoio de projetos de iniciação científica em escolas públicas.
O relatório do projeto recomenda campanhas de educação ambiental voltadas a moradores e turistas, investimentos em infraestrutura para coleta de resíduos, fiscalização do descarte e expansão das coletas para áreas menos urbanizadas, como a comunidade de Santa Rita, permitindo comparações e consolidando padrões espaciais. (Leia mais abaixo)
Nas próximas etapas, a equipe intensificará as amostragens, promoverá oficinas comunitárias e elaborará materiais educativos, transformando dados científicos em políticas locais. Os levantamentos em Santa Rita, a sistematização dos resultados em relatórios técnicos e a articulação com gestores municipais prometem transformar a investigação escolar em ações concretas, com potencial para reduzir a poluição, engajar a comunidade e orientar decisões públicas sobre a conservação da Lagoa de Cima.