- Japão autoriza a reabertura da usina nuclear de Kashiwazaki-Kariwa (Niigata), a maior do mundo, paralisada desde o desastre de Fukushima em 2011.
- A retomada, liderada pela TEPCO, visa reduzir a dependência de combustíveis fósseis, conter custos energéticos e cumprir metas de emissão de carbono.
- A decisão enfrenta resistência local devido a preocupações com a segurança, apesar das modernizações e inspeções realizadas pela TEPCO.
O governo do Japão autorizou a retomada das operações da maior usina nuclear do mundo, encerrando um período de mais de uma década de paralisação iniciado após o desastre de Fukushima, em 2011. A decisão ocorre em um contexto de pressão econômica, aumento da demanda energética e busca por redução das emissões de carbono.
A liberação foi aprovada pela assembleia da província de Niigata, onde está localizada a usina de Kashiwazaki-Kariwa, permitindo que a Tokyo Electric Power Company (TEPCO) reinicie gradualmente suas atividades. A empresa informou que o reator número 6 deve entrar em operação por volta de 20 de janeiro, segundo a emissora pública NHK.
Energia nuclear volta ao centro da estratégia japonesa
Desde o terremoto e tsunami de magnitude 9,0 que atingiram o país em 2011, provocando o colapso da usina de Fukushima Daiichi, o Japão adotou uma postura cautelosa em relação à energia nuclear. Naquele momento, todas as 54 usinas do país foram desativadas, incluindo Kashiwazaki-Kariwa, localizada a cerca de 320 quilômetros ao norte de Tóquio.
Ao longo dos anos seguintes, o país reativou apenas parte de sua capacidade nuclear. Atualmente, 14 dos 33 reatores considerados operacionais voltaram a funcionar, de acordo com a Associação Nuclear Mundial. A usina de Niigata será a primeira a reabrir sob a gestão da TEPCO desde Fukushima.
Antes do acidente, a energia nuclear respondia por cerca de 30% da eletricidade gerada no Japão. Com a paralisação, o país passou a depender fortemente de combustíveis fósseis importados, como carvão e gás natural, que hoje representam entre 60% e 70% da matriz energética. Apenas no último ano, essas importações custaram cerca de 10,7 trilhões de ienes (US$ 68 bilhões).
A primeira-ministra Sanae Takaichi, no cargo há dois meses, defende a retomada do setor nuclear como forma de reduzir custos, conter a inflação e enfrentar a estagnação econômica. O Japão é atualmente o quinto maior emissor de dióxido de carbono do mundo e assumiu o compromisso de alcançar emissões líquidas zero até 2050.
Embora o plano energético recente priorize investimentos em fontes renováveis, como solar e eólica, o governo avalia que a energia nuclear será essencial para sustentar o crescimento da demanda, impulsionado especialmente pela expansão de data centers e infraestrutura de inteligência artificial. A meta oficial é dobrar a participação nuclear na matriz elétrica, alcançando 20% até 2040.
Resistência local e promessas de segurança
Apesar do aval político, a decisão enfrenta forte resistência entre moradores de Niigata. Uma pesquisa divulgada pela prefeitura em outubro mostrou que 60% da população não acredita que as condições de segurança estejam plenamente garantidas, enquanto quase 70% manifestaram preocupação com a TEPCO operando a usina.
A empresa afirma ter realizado uma série de inspeções e modernizações, incluindo novos muros de contenção, portas estanques, sistemas de filtragem aprimorados e equipamentos móveis de emergência. Segundo a TEPCO, as mudanças foram projetadas para oferecer maior proteção contra tsunamis e controlar a dispersão de material radioativo.
No fim de outubro, a companhia declarou que o reator 6 passou por uma verificação completa de integridade e foi considerado apto a retomar as operações. Ainda assim, para muitos moradores que viveram o trauma de Fukushima, a reativação reabre feridas que seguem longe de cicatrizar.
