Enquanto autoridades e ativistas do mundo inteiro discutem as emergências climáticas na COP30 em Belém, moradores de uma cidade do Goiás tem que lidar com o desastre ambiental causado por um novo deslizamento no aterro sanitário de Padre Bernardo.
Estima-se que quase 3 mil toneladas de lixo tenham desabado na última quarta-feira (12). A informação é que o incidente ocorreu no mesmo local em que houve o primeiro desabamento em julho deste ano. Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o córrego de Santa Bárbara não foi contaminado.
A pasta, no entanto, não respondeu os questionamentos da reportagem. No dia 23 de outubro, a Semad recebeu um relatório constatando que a contaminação provocada pelo primeiro desmoronamento ainda apresentava níveis acima do permitido.
Segundo a análise, os pontos mais próximos ao lixão (chamados de P2 e P3) seguem como áreas de maior risco, com variações pontuais de metais e episódios intermitentes de toxicidade. O documento concluiu que o Santa Bárbara está em processo de recuperação, mas ainda não pode ser considerado seguro.
Sociedade quer recuperação ambiental
Ao Brasil de Fato DF, Flávio Cerratense, integrante do movimento Fora Lixão, analisa que a situação tende a piorar se nada for feito e que tem articulado, durante a Cúpula dos Povos na COP30, diálogo com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre o aterro.
“A ministra está vendo a possibilidade de puxar uma agenda com a gente, ver o que o governo federal pode ajudar. Lá também é uma unidade de conservação, uma APA [Área de Preservação Ambiental] federal. Queremos que tire todo esse lixo urgentemente, que haja uma análise do solo, das águas, o acompanhamento técnico”, explica.
A empresa Ouro Verde, responsável pelo aterro, comunicou ao governo do GO que enviou agentes para o local do desabamento na manhã de quinta-feira (13). A Semad alega que o deslizamento tenha sido causado pelas chuvas na região, que provocou instabilidade no maciço.
Enquanto isso, movimentos reivindicam que o lixão dê lugar a um parque. “Nós da sociedade civil não queremos mais esse lixão. A nossa proposta é que essa área vire um parque ecológico. Uma das alternativas era mandar esse lixo lá para o aterro sanitário de Águas Lindas (GO). Esse lixo não pode continuar lá. A área está toda desestabilizada”, complementa Cerratense.
Odor forte e risco de contaminação
Em setembro deste ano, após o primeiro desabamento no lixão, representantes da comunidade local produziram um relatório sobre a situação do aterro. A visita teve acompanhamento técnico da Associação de Agricultura Ecológica (AGE).
Na ocasião, moradores encontraram riscos estruturais e geotécnicos no aterro e constataram que a condição representa grave ameaça ambiental e à saúde pública.
Também foi observado que, apesar da remoção parcial dos resíduos no leito do córrego, o local continua visivelmente contaminado com odor forte e desagradável, e alto risco de escoamento de contaminantes para o córrego nas próximas chuvas.
O relatório enviado ao Brasil de Fato DF aponta recomendações para as autoridades. São elas: encerramento imediato e definitivo das atividades no aterro; remoção total dos resíduos depositados na área; fiscalização rigorosa por parte dos órgãos competentes; elaboração e apresentação pública de laudo técnico independente; e proibição formal de qualquer nova licença de operação ou expansão da área.
Segundo Flávio Cerratense, o documento foi enviado ao gabinete da deputada federal Erika Kokay (PT-DF) e ao comitê de crise instaurado no primeiro desastre, do qual fazem parte órgãos ambientais.
