Foto: Projeto Caminho das Águas

Os jornalistas Eduardo Seidl e Raphaela Donaduce Flores percorreram 500 km durante oito dias para realização do livro

Foto: Projeto Caminho das Águas

Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou a maior tragédia climática de sua história. Poucos meses depois, os jornalistas Eduardo Seidl e Raphaela Donaduce Flores decidiram seguir o mesmo percurso das águas da enchente: de Porto Alegre até o mar, na Praia do Cassino, em Rio Grande. O resultado é o livro Caminho das águas, uma viagem de bicicleta pela costa oeste da Lagoa dos Patos, publicado pela Editora Libretos.

Foram oito dias de pedaladas e cerca de 500 quilômetros percorridos, contornando a costa oeste da Lagoa dos Patos, com passagens por Barra do Ribeiro, Tapes, Arambaré, São Lourenço do Sul, Pelotas e Rio Grande. O projeto resultou em 152 páginas de narrativa em formato de diário-reportagem, com fotografias e textos que revelam as marcas deixadas pela enchente na paisagem e na vida da população.

“Este trabalho é fruto de horas de diálogo e elaboração conjunta, que começaram antes mesmo de nos lançarmos à estrada e seguiram meses depois de concluir o trajeto. Independentemente de quem clicou a foto ou redigiu as palavras, esta narrativa é uma fusão da nossa experiência coletiva”, escrevem Raphaela e Eduardo.

Na orelha da obra, o escritor e tradutor Pedro Gonzaga destaca que se trata de um livro difícil de enquadrar em categorias tradicionais: “Raphaela e Eduardo nos levam a ver a tragédia por uma mistura revigorante de recursos. É uma reportagem visual e escrita, mas também um relato de viagem sobre pedais. É denúncia social, convite à estrada, crônica de um tempo e reflexão sobre nossa relação com a natureza. Um trabalho primoroso de investigação, de aventura e de solidariedade.”

Além do caráter memorial e documental, o livro também dialoga com o movimento “Bicicleta: um carro a menos”, reforçando a luta pela mobilidade sustentável. “Em tempos de emergência climática, não há mais tempo a perder: é preciso repensar a velocidade do mundo”, defendem os autores.

Livro narra em texto e fotos o caminho das águas da enchente de 2024

Arte: Projeto Caminho das Águas

Arte: Projeto Caminho das Águas

“A Rapha e eu já há um bom tempo dedicamos nossos períodos de férias a viagens de bicicleta. Tanto no verão quanto no inverno. Naquele julho de 2024, a gente tinha uma semana de folga e percebeu que nossa viagem não poderia ser desconectada dos acontecimentos que estavam se passando pelo estado”, conta Eduardo.

Foi então que decidiram fazer de forma simbólica o caminho que as águas fizeram desde Porto Alegre até encontrar o mar.

“Percorremos a costa oeste da Lagoa dos Patos, seguindo o instinto de jornalistas que somos, e nos jogamos na estrada para ver como estava a situação das comunidades e dos territórios. Enfim, a gente saiu com esse espírito jornalista, de documentação, mas a gente não tinha ainda o formato livro pronto na cabeça. Inclusive a gente, pelas dificuldades que a gente e todo estado estava passando naquele momento, havia muita dificuldade de obter informações de como é que estaria o trajeto, de como estavam esses lugares. Chegamos a ter muita dúvida sobre se conseguiríamos completar a viagem. Mas enfim, conseguimos! E a gente, no final, vendo, percebendo que tínhamos conseguido fazer essa essa documentação, foi que a gente começou, então, pensar sobre como e o que fazer.  Aí abriu o edital, então, do Política Nacional da Aldir Blanc, no edital de memória e patrimônio, inscrevemos o projeto e fomos contemplados. E aí começou esse trabalho de edição e produção deste livro, graças aos incentivos públicos à cultura e educação”, explica.

Para Raphaela, viajar de bicicleta em si já é uma experiência muito interessante. “É sempre um, um convite a gente olhar o nosso entorno a um jeito de jeito diferente. É diminuindo a velocidade, que prestamos atenção em coisas que a gente não está acostumado a ver ou perceber ou sentir quando a gente se está de carro, por exemplo”.

“A gente fica mais em contato com as interferências climáticas, com o vento, com a chuva, com o sol; escuta outros sons, como o som dos pássaros. Percebemos a velocidade dos carros. Então, uma viagem de bicicleta sempre permite uma série de reflexões o nosso jeito de estar no mundo e a nossa forma de nos relacionar com o meio-ambiente e com o nosso território.

A jornalista explica que, para além de serem cicloviajantes tarimbados, o contexto da enchente também funcionou como uma forma de elaboração pessoal do trauma coletivo e individual que o desastre climático trouxe e que até agora os gaúchos ainda tentam elaborar.

“Esperamos que por meio desse livro a gente esteja contribuindo de alguma maneira para uma elaboração coletiva, para esse olhar coletivo sobre as nossas águas e sobre o nosso entorno”, diz Raphaela.

Livro narra em texto e fotos o caminho das águas da enchente de 2024

Foto: Projeto Caminho das Águas

Foto: Projeto Caminho das Águas

Lançamentos em sete cidades

Livro narra em texto e fotos o caminho das águas da enchente de 2024

Foto: Reprodução/Caminho das Águas

Foto: Reprodução/Caminho das Águas

O livro será lançado ao longo de outubro, sempre em eventos abertos ao público, com rodas de conversa e tradução em Língua Brasileira de Sinais (Libras).

  • 6/10 – Porto Alegre, às 19h, no Bar Térreo da Travessa dos Cataventos, com mediação de Marcela Donini e pocket show de Clarissa Ferreira

  • 10/10 – São Lourenço do Sul, às 16h, na Escola Marina Vargas (Av. Coronel Nono Centeno, 933)

  • 11/10 – Pelotas, às 12h no Cantinho da Gi, na Colônia Z3, e às 17h na 4 Galeria e Café (Rua Doutor Amarante, 608)

  • 12/10 – Rio Grande, às 15h, no Palacete Bianchini (Av. Rio Grande, 186, Praia do Cassino)

  • 24/10 – Barra do Ribeiro, às 16h, no Galpão Crioulo da Prefeitura (Rua 14 de Julho, s/nº)

  • 25/10 – Arambaré, às 10h, na Biblioteca Pública Municipal Sílvia Centeno Xavier (Rua Donário Lopes, 85)

  • 25/10 – Tapes, às 18h, na Associação Comercial e Industrial de Tapes (Av. Getúlio Vargas, 605)

Parte da tiragem será distribuída gratuitamente a escolas públicas, universidades, museus, bibliotecas e pontos de cultura das cidades envolvidas. Outra parte será vendida em livrarias, no site da Editora Libretos e diretamente com os autores, por valor subsidiado de R$ 50.

O conteúdo integral também estará disponível de forma acessível, com audiodescrição, no site www.pedalcaminhodasaguas.com.br, além do perfil no Instagram @pedalcaminhodasaguas, que traz bastidores da expedição.

O projeto foi contemplado pelo Edital Sedac Pnab RS — 31/2024 — Memória e Patrimônio, com financiamento da Política Nacional Aldir Blanc e apoio do Pró-Cultura RS e do Ministério da Cultura.

Quem são os autores

Raphaela Donaduce Flores – Jornalista desde 2006, atua na área cultural e fundou em 2011 a Dona Flor Comunicação, agência de assessoria e projetos culturais. Pós-graduada em gestão cultural e comunicação empresarial, com MBA em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular, atualmente é graduanda em Escrita Criativa na PUCRS. Pedala desde a infância e intensificou as longas distâncias durante a pandemia. É mãe do ciclista Joaquim.

Eduardo Seidl – Jornalista e mestre em linguagens e práticas jornalísticas pela Unisinos, é docente e coordenador do Laboratório de Aprendizagem em Fotografia da Famecos/PUCRS. Repórter fotográfico com mais de 20 anos de atuação em redações e assessorias, é fundador do Núcleo Imagens Faladas do Quilombo do Sopapo, em Porto Alegre. Trabalha em projetos culturais e de pesquisa voltados a narrativas visuais, fotolivros e percursos criativos. É pai dos ciclistas Sebastião e Matias.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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