A presença de agrotóxicos nos alimentos é uma preocupação crescente entre consumidores, especialistas em saúde e organizações de defesa do consumidor.

Uma recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), batizada de “Tem Veneno Nesse Pacote”, trouxe à tona dados sobre a contaminação por agrotóxicos em produtos ultraprocessados consumidos no Brasil.

O estudo que acendeu o alerta

A pesquisa foi realizada em maio de 2023 e marcou a terceira edição do levantamento conduzido pelo Idec. O foco principal foi a análise de 24 produtos ultraprocessados de oito categorias diferentes, todos amplamente disponíveis em supermercados.

Os produtos foram escolhidos com base nos mais vendidos em suas respectivas categorias, incluindo macarrão instantâneo, biscoito maisena, bolo pronto, presunto, bebida láctea e alimentos vegetais processados como hambúrgueres e empanados.

Os testes laboratoriais foram conduzidos por uma instituição certificada pela CGCRE (Coordenação Geral de Acreditação) do Inmetro, com capacidade de identificar resíduos de até 563 tipos de agrotóxicos.

Produtos campeões em resíduos de agrotóxicos

Entre todos os produtos analisados, os biscoitos maisena das marcas Marilan e Triunfo lideraram a lista com quatro tipos diferentes de agrotóxicos detectados em cada amostra.

Outros alimentos, como o hambúrguer vegetal da Sadia, o empanado vegetal da Seara e o bolo pronto da Ana Maria, também apresentaram resíduos preocupantes. Os produtos foram divididos em três níveis de contaminação:

Com quatro tipos de agrotóxicos:

  • Biscoito maisena Marilan
  • Biscoito maisena Triunfo

Com três tipos:

  • Hambúrguer vegetal Sadia
  • Empanado vegetal Seara
  • Macarrão instantâneo Nissin e Renata
  • Bolo pronto Ana Maria

Com dois ou menos:

  • Produtos da Fazenda Futuro, Aurora, Pirakids e outros

A única categoria que não apresentou resíduos de agrotóxicos foi a de sobremesa tipo petit-suisse sabor morango.

Glifosato

Dentre os agrotóxicos detectados, o glifosato foi o mais recorrente, identificado em sete das 24 amostras testadas. Esse herbicida é amplamente utilizado no agronegócio brasileiro e classificado como “provavelmente carcinogênico” pela Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Embora os níveis detectados estejam dentro dos limites permitidos pela legislação brasileira, especialistas apontam que a ingestão crônica e combinada desses resíduos pode representar riscos cumulativos à saúde, sobretudo para crianças e gestantes.

Um fator comum entre muitos produtos contaminados foi a presença de farinha de trigo, ingrediente essencial em biscoitos, bolos, massas e empanados. O Idec já havia identificado em edições anteriores da pesquisa que a farinha de trigo é um dos principais vetores de contaminação por agrotóxicos nos alimentos ultraprocessados.

Respostas das empresas

Após a divulgação do estudo, todas as empresas citadas foram notificadas pelo Idec. A maioria respondeu reafirmando seu compromisso com a qualidade, a segurança alimentar e a conformidade com a legislação brasileira.

Alegaram utilizar fornecedores homologados, realizar auditorias periódicas e contar com sistemas de rastreabilidade de última geração.

Algumas empresas, como a Nissin e a Sadia, reforçaram que os resíduos detectados estavam dentro dos limites estabelecidos pela Anvisa e pelo MAPA, enquanto outras, como a Aurora e a Panco, questionaram os métodos da pesquisa ou alegaram que o lote analisado não foi produzido por elas.

Idec aponta falhas regulatórias

Embora a maioria dos produtos analisados esteja “legalmente dentro do permitido”, o Idec levanta uma discussão mais ampla, que a legislação atual não é suficiente para proteger o consumidor de combinações múltiplas e contínuas de resíduos químicos.

Segundo a entidade, não há no Brasil um limite seguro acumulado para o consumo de diferentes tipos de agrotóxicos em um mesmo produto ou ao longo do tempo, o que aumenta os riscos à saúde pública.

O Idec também defende que a rotulagem dos alimentos deveria informar a presença de agrotóxicos nos ingredientes utilizados, para garantir mais transparência ao consumidor.

A pesquisa do Idec reforça o papel fundamental da sociedade civil organizada na fiscalização das práticas da indústria alimentícia e destaca a importância de decisões informadas por parte dos consumidores.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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