[©Government of Lesotho]

O Governo do Lesoto declarou esta semana o «estado de desastre», perante a ameaça de tarifas de 50% sobre as suas exportações têxteis para os EUA, impostas pela administração de Donald Trump. A decisão, segundo o Ministro do Comércio, visa preparar o país para perdas severas na indústria, que emprega cerca de 40.000 pessoas.

«Estamos à espera, ansiosamente, da possibilidade de nos ser atribuída uma taxa favorável e essa taxa favorável… só pode ser de 10% ou menos», sublinhou Mokhethi Shelile ao Financial Times. «Qualquer valor acima disso, tememos que a nossa indústria têxtil, que exporta para os Estados Unidos, tenha de mudar para outros mercados ou simplesmente encerrar», acrescentou.

O Ministro do Comércio explicou que o estado de desastre permitirá ao governo acelerar a criação de 60.000 novos empregos noutros setores, como a agricultura e a construção, nos próximos dois anos. Para financiar estas medidas, todos os ministérios foram obrigados a contribuir com 3% dos seus orçamentos, formando um fundo de 22,2 milhões de dólares destinado a bolsas para jovens e empréstimos para empreendedores.

Despedimentos já começaram

As exportações de vestuário representam cerca de 10% do PIB de 2 mil milhões de dólares do Lesoto, o país africano que mais exporta vestuário para os EUA. A indústria, que serve marcas como a Levi’s e a Wrangler, floresceu graças ao African Growth and Opportunity Act (Agoa), que permite acesso isento de tarifas ao mercado norte‑americano, mas tem sofrido com as recentes decisões políticas de Washington.

«Há despedimentos em massa em curso», afirmou Teboho Kobeli, fundador da Afri Expo, um dos maiores produtores do país. «A menos que [as fábricas] estejam a fazer outras encomendas além das dos EUA, vão encerrar completamente», acredita, acrescentando que as empresas mais afortunadas «estão apenas a concluir encomendas pendentes. Não há novas encomendas a chegar».

Mokhethi Shelile adiantou que o governo está a tentar reduzir a dependência do mercado americano, procurando compradores na África do Sul. «Estamos a fazer avanços no mercado sul-africano para vender alguns dos produtos que iriam para os EUA», revelou.

Especialistas alertam, porém, que a diversificação poderá não ser suficiente. «Na maioria dos casos, outros países africanos não consomem os mesmos produtos que os americanos», indicou Donald MacKay, diretor executivo da XA Global Trade Advisors, sediada em Joanesburgo.

Para Colette van der Ven, diretora executiva da Tulip Consulting, o impacto real do Lesoto no défice comercial dos EUA é mínimo, com o país a contribuir com apenas cerca de 0,02% do défice total dos EUA, o que significa que uma tarifa recíproca de 50% «não faz qualquer sentido».

Com uma taxa de desemprego jovem de 48%, o Lesoto procura urgentemente alternativas. As recentes mudanças de política comercial norte‑americana estão apenas «a acrescentar à ferida que já lá estava há muitos anos», resumiu Mokhethi Shelile.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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