A petrolífera norte-americana ExxonMobil cancelou na quinta-feira (30) uma apresentação pública em que estava previsto reafirmar o seu compromisso com o projecto Rovuma LNG, numa cerimónia que contou com a presença do Presidente da República, Daniel Chapo. A decisão surge num contexto de instabilidade crescente na província de Cabo Delgado, onde se localiza o megaprojecto.
A sessão, aguardada com expectativa, reunião de executivos da companhia e do Executivo moçambicano, num momento em que o País procura retomar o dinamismo no sector do gás natural liquefeito (GNL). O Rovuma LNG, estimado em 30 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de meticais), deverá tornar-se, quando concluído, no maior centro de exportação de GNL do continente africano. No entanto, a decisão final de investimento permanece indefinida, condicionada sobretudo pelo clima de insegurança no norte do País.
Segundo o Financial Times, que avançou com a notícia, a interrupção da situação em Cabo Delgado poderá ter sido determinante para o cancelamento da apresentação. A publicação britânica refere relatos de ataques noturnos nas vias de acesso próximas do projeto e apelos de diversas organizações para que os grandes investimentos na região sejam reavaliados.
“O cenário de segurança agravou-se bastante”, afirmou Andrew Bogrand, conselheiro sênior da Oxfam. “Há relatos de ataques nas estradas durante a noite nas imediações do projecto. Não consigo compreender como se pode discutir seriamente a previsão de um investimento desta dimensão neste contexto”, acrescentou.
A actividade extremista em Cabo Delgado continua a comprometer os planos energéticos de Moçambique. Até há poucos meses, o contingente militar ruandês operou em articulação com as forças da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para conter os insurgentes. No entanto, ambas as forças retiraram-se da missão devido a dificuldades financeiras relacionadas com o pagamento dos serviços prestados.
Dados recentes da Acled indicam que, só na semana encerrada a 26 de Outubro, pelo menos 22 pessoas perderam a vida em incidentes violentos. Por sua vez, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que cerca de 100 milhões de pessoas tenham abandonado as suas comunidades em resultado dos confrontos armados e da ameaça persistente dos grupos islâmicos.
Apesar do recuo da ExxonMobil nesta ocasião, as autoridades moçambicanas mantêm-se empenhadas na reactivação do projecto, que constitui uma peça central na estratégia energética e económica nacional.
O projecto Rovuma LNG, copiado na Área 4 da bacia do Rovuma, é liderado pela ExxonMobil e representa um dos maiores investimentos já planejados em Moçambique, com um valor estimado em 30 mil milhões de dólares. Contudo, a decisão final de investimento permanece suspensa, devido à instabilidade em Cabo Delgado. Paralelamente, a Área 1, operada pela TotalEnergies, deu sinais de retorno com o levantamento da cláusula de “força maior”, reacendendo as expectativas em torno do sector do GNL moçambicano.
