O presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, alertou hoje para os perigos da poluição produzida pelos incêndios, especialmente partículas finas, que quando inaladas podem reduzir a esperança de vida.

“Falamos em quantidades enormes não só de partículas mas também de óxido de azoto, que levam a formação do ozono, do chamado carbono negro, um poluente que cada vez mais está a ser considerado como tendo um impacto mais significativo para saúde e ambiente, e outros que vão de monóxido de carbono ao dióxido de carbono” (CO2), disse Francisco Ferreira à Agência Lusa.

O presidente da Zero destacou também o muito tempo de recuperação de serviços de ecossistema, paisagem incluída, destruídos pelos incêndios, e estimou em centenas de milhões de euros as perdas económicas e ecossistémicas.

Francisco Ferreira disse que se contabiliza muito, e bem, as perdas económicas, mas alertou para outros prejuízos enormes resultantes dos incêndios, para a saúde pública e para o ambiente, associados a perdas naturais e ecossistemas destruídos, recordando que os incêndios provocam dois tipos de impactos, um resultante do que está a acontecer quando decorre o incêndio e outro depois, com impactos que podem durar de alguns dias a anos.

Professor no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-NOVA), autor de publicações nas áreas da qualidade do ar, alterações climáticas e desenvolvimento sustentável, Francisco Ferreira destacou a “mortalidade direta” decorrente dos incêndios, da fauna e da flora, dos ninhos e das tocas, dos micro-habitats ou dos organismos do solo que contribuem para a fertilidade.

Os incêndios, acrescentou, “não destroem só a cobertura do solo, destroem o próprio solo e deixam-no a seguir vulnerável à erosão, a não conseguir reter a água, a deixar que as cinzas se depositem nas linhas de água”.

E depois “algo que é extremamente importante, que não damos se calhar muito valor, que é a destruição da paisagem. Afeta várias atividades económicas, a começar pelo turismo, e afeta a vivência entre as pessoas mais próximas ou no meio da zona ardida”, afirmou.

Imediatos são ainda, acrescentou o também investigador do CENSE – Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade, os “impactos enormes” em termos de poluição do ar, “que estão cada vez mais quantificados e são bastante graves”.

Ainda sobre os incêndios, Francisco Ferreira explicou que as áreas ardidas, sejam matos ou agricultura, além da importância económica são uma forma de armazenamento de carbono.

“Entramos aqui num ciclo dramático, que é estarmos a ter eventos climáticos extremos, como ondas de calor prolongadas e temperaturas muito elevadas, à custa do aquecimento global e das consequentes alterações climáticas, e depois com os incêndios vamos colocar na atmosfera uma quantidade enorme e dióxido de carbono que estava na vegetação, e também no solo, e isso vai agravar ainda mais as alterações climáticas”, disse.

Francisco Ferreira acrescentou que depois do incêndio extinto surgem outros problemas, como a erosão dos solos, as cheias ou os deslizamentos, a que se juntam os impactos na qualidade da água, “porque as cinzas, o azoto, o fósforo, os metais… vão afetar as linhas de água mais próximas”.

E depois, na recuperação da biodiversidade, problemas também, pelo tempo longo de recuperação e pelo perigo de proliferação de espécies invasoras.

Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração da situação de alerta desde 02 de agosto.

Os fogos provocaram dois mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, na maioria sem gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.

LUSA

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By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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