
A impermeabilização de um sofá pode ter provocado a explosão que, na última segunda-feira (22), destruiu um apartamento no limite de Cachorieinha com Gravataí e deixou uma moradora com ao menos 50% do corpo queimado.
A vítima, Eduarda Silveira Vieira Guerreiro, 26 anos, acendeu o fogão da residência logo após o serviço ser realizado no móvel da sala.
O procedimento cria uma camada protetora no estofado, impedindo que líquidos e sujeiras penetrem as fibras do tecido. Para isso, são utilizados produtos específicos, que podem ser à base de água ou de solvente. Quando o impermeabilizante for à base de água, não há risco de explosão ou incêndio. Mas se for composto por solvente, o serviço exige uma série de cuidados para evitar acidentes.
Isso porque esses produtos contêm substâncias voláteis, que rapidamente transformam-se em vapores altamente inflamáveis. Quando entram em contato com algum tipo de combustor, os gases podem provocar explosões.
A suspeita principal dos bombeiros é de que o produto utilizado para impermeabilizar o sofá tinha solvente na composição, o que exigiria um protocolo de segurança. A Polícia Civil está apurando possível negligência por parte da empresa que realizou o serviço, que deveria informar os riscos envolvidos e orientar quanto aos cuidados — o que, conforme o marido da vítima, não aconteceu.
Quais são os cuidados necessários
O empresário Mário Pimenta, proprietário de uma empresa que presta o serviço de impermeabilização, acredita que o acidente tenha sido fruto da falta de preparo da equipe envolvida no procedimento. Ele explica que produtos à base de solvente são mais baratos e secam mais rapidamente — por isso, acabam sendo a escolha de muitas empresas do setor.
— Esse produto já era para ter sido extinto do mercado. É um produto antigo — diz.
Ele destaca que, embora o impermeabilizante a base de solvente seja eficaz em casos específicos, como tecidos com urina de pets, o risco exige cuidado extremo.
— O ideal é que o cliente não fique na unidade. O ambiente deve estar o mais arejado possível, com as luzes apagadas e sem fontes de combustão — afirma.
A recomendação é que o local tenha todas as portas e janelas abertas para criar uma corrente de ventilação cruzada, que expulse os gases para fora do imóvel.
O cheiro do impermeabilizante tende a se dissipar em cerca de 20 minutos, mas isso não significa que o ambiente está seguro. Como os vapores liberados são mais densos do que o ar, podem ficar acumulados no chão, em vãos de móveis e cantos da casa, criando uma atmosfera potencialmente explosiva.
Assim, qualquer faísca pode atuar como gatilho para um acidente. Por isso, durante e após a aplicação, deve-se manter luzes apagadas e aparelhos elétricos desligados. Também não se deve fumar no local ou utilizar fogões, isqueiros, fósforos e acendedores de qualquer tipo.
Quando houver boa ventilação cruzada, a orientação é para que essas medidas sejam respeitadas por, pelo menos, duas horas depois da aplicação. Já em locais com menos corrente de ar, o tempo pode variar de quatro a oito horas.
O ideal é sempre optar por realizar o serviço com empresas que utilizam produtos à base de água. Esse tipo de impermeabilizante demora mais para secar totalmente no estofado — de 24 a 72 horas —, mas oferecem maior segurança e não deixam cheiro.
