Mais de 82% das águas utilizadas para banhos em Portugal, desde praias a rios, tinham em 2024 uma qualidade considerada excelente para este efeito, de acordo com um relatório divulgado esta semana pela Agência Europeia do Ambiente (AEA) sobre a qualidade das águas balneares. A associação Zero manifestou-se preocupada com o relatório da AEA devido à redução do número de praias de qualidade “excelente”, abaixo da média de 29 países europeus, e um recorde de praias más.
Segundo o relatório sobre a qualidade das águas para banhos, em Portugal foram recolhidas em 2024 amostras de 673 locais, 512 da zona costeira. Destas amostras, 556 (82,6%) são de qualidade “excelente”, 73 (10,8%) são de qualidade “boa” e apenas nove (1,3%) são de qualidade “fraca”. Vinte amostras (3%) não foram classificadas.
A classificação tem por base dois parâmetros microbiológicos: a presença da bactéria Escherichia coli (E.coli) e de bactérias Enterococci intestinais.
Das nove águas balneares com qualidade “má” de acordo com os dados da AEA, seis são no continente, duas na Madeira e uma nos Açores, nomeadamente Benfeita (Arganil), Sandomil (Seia), Matosinhos, Almaceda (Castelo Branco), Fragas de São Simão (Figueiró dos Vinhos), Relva da Reboleira (Manteigas), Poças do Gomes/Doca do Cavacas (Funchal), Maiata (Machico) e Ilhéu de Vila Franca do Campo (São Miguel).
Tendência de redução da excelência
“Se por um lado nós temos realmente uma percentagem bastante significativa de praias com qualidade excelente”, a “tendência que se está a verificar nos últimos anos é de uma redução desta percentagem de praias excelentes, nós passamos de 88,5% em 2021 para 82,6% em 2024, e estamos abaixo da média europeia, que é de 85%”, disse à agência Lusa Francisco Ferreira, presidente da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável.
Apesar do aumento do número de praias classificadas pela associação como de “Zero Poluição” (de 59 para 81), e de mais praias com Bandeira Azul (de 398 para 404), Francisco Ferreira nota que, nas praias classificadas como más – de acordo com a análise feita com base na última época balnear, 2024 -, existem “indicadores que mostram, sem dúvida alguma, um problema crescente”, ao passar-se de três praias (0,4%) em 2023 com má qualidade para nove (1,4%) em 2024.
“Destas nove, há uma que nem sequer nesta época balnear de 2025 abriu, que é o caso da praia do Ilhéu de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, nos Açores, mas as outras oito estão abertas e, portanto, daí também o nosso alerta para que os utilizadores tenham cuidado, olhando para a informação que deverá estar disponível, porque são praias com o risco acrescido”, advogou.
Seca prejudica praias interiores
No relatório sobre União Europeia (mas que inclui também Albânia e Suíça), Portugal registou 82,6% de águas balneares de excelente qualidade, comparando com a média dos 29 países de 85%. Em comunicado, a Zero salientou que “o pior é a tendência verificada” nos últimos quatro anos, de 88,5% em 2021, 84,8% em 2022, 86,2% em 2023, e 82,6% em 2024.
“Esta tendência contrária e particularmente marcada no que respeita à redução das praias com excelente qualidade, merece uma avaliação por parte da Agência Portuguesa do Ambiente e das Direcções Regionais do Ambiente no caso dos Açores e Madeira, pelas responsabilidades que têm na gestão dos recursos hídricos”, refere-se na nota.
“É fundamental nós identificarmos as causas desta má qualidade e as entidades agirem em conformidade, ver se são problemas de falhas no tratamento de águas residuais, se são problemas com indústrias localizadas próximo, podem ser várias as causas, mas o que é facto é que a tendência, infelizmente, olhando para os últimos anos, não é animadora”, considera Francisco Ferreira.
O dirigente da organização não-governamental explicou que as praias interiores são “mais vulneráveis”, por não terem “a capacidade de diluição do oceano”, e nas nove praias más, cinco são interiores.
“Isso está também relacionado com o facto de 2024 ter sido um ano de seca, portanto, a diluição de alguma contaminação, de alguma poluição foi menor, mas é fundamental nós termos em atenção que as praias interiores são cruciais para tirar também pressão sobre a grande ocupação do litoral”, frisou.
Procurar informação
Nesse sentido, a Zero recomendou na nota a quem frequente estas zonas balneares “uma particular atenção à informação e avisos da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), dado que o seu historial mostra uma forte possibilidade de problemas de contaminação”.
A APA disponibiliza um site dedicado, InfoÁgua, onde é possível obter informações acerca das 673 águas balneares identificadas, das quais 605 vigiadas durante esta época balnear.
Os dados recolhidos incluem Portugal continental e os arquipélagos da Madeira e dos Açores. Dos 673 locais analisados, 633 estão a ser continuamente monitorizados e foram identificados mais 25. Apenas dois locais sofreram alterações na qualidade da água para banhos.
Nos últimos 30 anos, o ano de 1995 foi o que teve uma classificação pior nas águas costeiras. Ainda assim, a maioria das amostras recolhidas apresentavam valores “excelentes” para banhos.