Mateus Bruxel / Agencia RBS
Mortalidade da influenza aviária é alta e súbita entre galinhas.

A indústria brasileira — e gaúcha — de carne de frango deparou com uma notícia que vinha sendo evitada há pelo menos duas décadas. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, na sexta-feira (16), o primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. 

A detecção do caso aconteceu no município de Montenegro, no Vale do Caí, colocando em alerta máximo toda a produção avícola nacional, dados os seus efeitos sanitários e econômicos.

O vírus da gripe aviária circula com mais força desde 2006, com casos registrados principalmente na Ásia, na África, na América do Norte e no norte da Europa, mas não havia chegado às aves comerciais no Brasil até então. Em razão do foco, foi decretado estado de emergência zoossanitária por 60 dias.

Além do caso de Montenegro, foi confirmada a contaminação de aves silvestres no Zoológico de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. O surto vitimou 90 das 500 aves aquáticas do espaço, principalmente cisnes e patos.

Gripe aviária no RS: o que se sabe

Contenção do vírus

Uma série de medidas sanitárias foi acionada assim que o caso foi confirmado pelas autoridades da Agricultura e da Saúde do Estado. As ações de vigilância ficam concentradas em um raio de até 10 quilômetros no entorno do local onde foi detectado o foco. Também são realizadas barreiras de desinfecção no espaço delimitado.

Ao todo, cerca de 17 mil galinhas matrizes, ou seja, para a produção de ovos férteis (aqueles comercializados para desenvolver animais de corte) estavam em dois galpões da granja afetada pelo vírus. 

No primeiro espaço, 100% das galinhas morreram. No segundo galpão, a mortalidade foi de 80%. As aves remanescentes foram sacrificadas e destinadas para o descarte correto.

Os ovos que saíram da granja foco estão sendo rastreados, para que possam ser eliminados. Os produtos já foram movimentados dentro e fora do Rio Grande do Sul.

Quais os protocolos adotados

A Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) detalhou as medidas que estão sendo tomadas neste momento. O objetivo é conter a doença, garantir a segurança alimentar e evitar qualquer impacto na produção.

  • Isolamento da área em Montenegro;
  • Eliminação das aves restantes, para que seja iniciado o protocolo de saneamento da granja;
  • Investigação complementar em raio inicial de 10 quilômetros da área de ocorrência do foco e de possíveis vínculos com outras propriedades.

Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, as autoridades estaduais afirmaram que já se preparavam para a possibilidade de contágio desde que os casos começaram a se espalhar mundialmente.

— Se tem um aprendizado sobre como trabalhar com a doença. O Brasil foi o país que mais tempo conseguiu manter a produção comercial livre depois da detecção em aves silvestres. Temos um conjunto de compromissos com os parceiros comerciais, e isso envolve uma sequência de ações e comunicados — disse o superintendente do Ministério da Agricultura no RS, José Cleber Dias de Souza.

No Estado, o mês de maio já era considerado um período de risco em razão da circulação de aves silvestres neste período do ano.

— Não fomos pegos de surpresa. Sabíamos que, provavelmente em maio, poderia ter caso de ocorrência devido ao movimento de aves migratórias nesta época — afirmou Márcio Madalena, secretário adjunto da Agricultura.

Impacto econômico

O registro do vírus na produção aviária tem efeito imediato nas relações de comércio exterior. Por isso, o caso traz importante impacto financeiro para o Brasil e o Rio Grande do Sul, que é o terceiro maior exportador de carne de frango entre os Estados.

China e União Europeia suspenderam suas compras depois que o caso foi comunicado pelas autoridades brasileiras. No caso europeu, a suspensão automática e da forma de autoembargo está prevista no protocolo de exportação de frango acordado entre o Brasil e o bloco.

A China, principal comprador do frango brasileiro, já havia suspendido as compras desde o caso de Newcastle (semelhante à gripe aviária), detectado no município de Anta Gorda, no ano passado. Para o RS, portanto, a autossuspensão nada altera. O problema é que o novo foco agora deve postergar as tratativas de reabertura do mercado.

Presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos diz que ainda é cedo para se projetar o tamanho do impacto econômico. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que cálculos ainda precisam ser feitos para se ter uma dimensão do problema. 

Mudanças nos tratados sanitários com vários países foram articuladas após registros de contaminação de aves silvestres no Brasil, em 2023. A intenção era regionalizar eventual suspensão, já que um caso no Rio Grande do Sul, por exemplo, não afetaria os animais de outros Estados.

Agora confirmado o caso em atividade comercial, a expectativa é de que as conversas entre os países avancem no sentido de regionalizar os embargos. 

— Os países em que nós conseguimos avançar e trocar o protocolo, como é o caso do Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes, ficam restritos primeiro ao Estado que teve o foco, no caso do Rio Grande do Sul, e depois se restringe apenas ao município. O restante do Brasil continua com o fluxo comercial normal — explicou o ministro.

Em 2024, as exportações brasileiras de carne de frango atingiram o recorde de 5,2 milhões de toneladas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O dado representou alta de 3% em relação ao ano anterior.

Quais os riscos

O governo alerta que não existe risco de transmissão da doença pelo consumo da carne ou de ovos.

Já “o risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas”, diz trecho da nota do ministério.

Como a doença se espalha?

O vírus da influenza aviária circula mundialmente em aves silvestres, sobretudo nas aves aquáticas migratórias, o que facilita a sua propagação. As regiões de maior risco de influenza são aquelas em que há predominância de relação de contato entre galinhas comerciais e aves aquáticas domésticas e silvestres, como patos e marrecos, tanto nas áreas rurais quanto em centros urbanos onde há comércio de aves vivas.

Desde a sua primeira identificação na China, em 1996, a gripe aviária de alta patogenicidade (IAAP) apresentou diversas ondas de transmissão intercontinental. A doença provocou o abate de mais de 316 milhões de aves no mundo entre 2005 e 2021, com picos em 2021, 2020 e 2016. Mais de 50 países e territórios foram afetados pelo vírus, entre eles África, América do Norte, Ásia, Austrália, Europa, Oriente Médio.

Cronologia da influenza aviária

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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