O momento reuniu representantes de nove sindicatos do setor petroquímico para debater os riscos da exposição ao benzeno

A sessão desta terça-feira 10, na Câmara de Canoas foi marcada por um Grande Expediente de autoria do vereador Gabriel Constantino (PT). O momento reuniu representantes de nove sindicatos do setor petroquímico para debater os riscos da exposição ao benzeno, substância cancerígena presente em toda a cadeia produtiva da indústria química e de combustíveis.

Com o plenário lotado, a fala inicial de Constantino destacou a gravidade do tema e a urgência de políticas públicas que enfrentem o problema de frente. “Canoas é uma cidade altamente industrializada, com uma das maiores concentrações petroquímicas do estado. E isso significa que vivemos cercados por uma substância que mata em silêncio”, alertou. Ao longo do Grande Expediente, os dirigentes sindicais fizeram apresentações técnicas e relatos sobre o impacto do benzeno na vida de trabalhadores. Segundo os especialistas convidados, não existe limite seguro para exposição ao benzeno. Mesmo em baixíssimas concentrações, a partir de 1 parte por milhão (ppm), a substância já é capaz de causar leucemia, linfomas, alterações no DNA e diversas outras doenças graves.

Gerson Cardoso, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petroquímica de Triunfo (SINDIPOLO), trouxe uma explicação detalhada sobre as características químicas do benzeno. “Ele é incolor, volátil e mais pesado que o ar. Num ambiente sem ventilação adequada, permanece no chão, justamente onde os trabalhadores respiram. E o pior: tem cheiro agradável. É um veneno aromático”, explicou. Gerson também apontou a presença do benzeno em quase toda a cadeia de produção petroquímica, passando por produtos como plásticos, tintas, detergentes e pesticidas. “Não há como afirmar que não há vazamento. O benzeno está nos dutos, nos caminhões, nos postos, nas roupas contaminadas que os trabalhadores levam para casa. É um risco coletivo e contínuo.”

Anderson Medeiros, do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Sul (SINDIPETRO), resgatou a trajetória da luta contra o benzeno desde os anos 1980, quando surgiram os primeiros alertas de contaminação em siderúrgicas de São Paulo. “Foi a partir de muita mobilização dos trabalhadores que conseguimos pressionar o governo a criar uma legislação específica. O Acordo Nacional do Benzeno, de 1995, é fruto dessa luta”, explicou. Medeiros alertou, no entanto, que conquistas históricas estão sob ameaça. “As comissões nacionais e estaduais sobre o benzeno foram extintas no governo anterior, e agora a legislação está sendo revisada com risco de retrocesso. Estamos desprotegidos”, disse. Ele encerrou pedindo à Câmara a criação de uma comissão municipal para acompanhar e fiscalizar a exposição ao benzeno em Canoas.

Arilson Wünsch, do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do Estado do RS (SINDIÁGUA), destacou que a contaminação por benzeno extrapola os muros das fábricas. “Está no ar, está nos postos, está até no copinho plástico onde tomamos café. É um risco invisível, mas presente em toda parte”, afirmou. Ele também lembrou da importância do SITEL – Sistema Integrado de Tratamento de Efluentes Líquidos do Polo Petroquímico do Sul, mas alertou: “Só o SITEL não resolve, precisamos de políticas preventivas, de proteção aos trabalhadores, de fiscalização séria”. Arilson defendeu o retorno das comissões tripartites, com participação de governo, empresários e trabalhadores, e lamentou a lentidão do poder público em reativá-las. “A tolerância ao benzeno tem que ser próxima de zero. Tratar essa substância com seriedade é proteger vidas”, concluiu.

Encerrando o ciclo de falas, Angelo Martins, do Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis e Derivados de Petróleo no RS (SINTRAPOSTOS), chamou a atenção para o impacto direto da exposição em postos de abastecimento. “É no município que o trabalhador adoece, que o hospital fecha, que a população sofre. E é aqui que essa pauta precisa ser enfrentada com coragem.” Martins destacou a prática comum de levar uniformes contaminados para casa e o risco de contaminação de familiares. “Essas vestimentas não são roupas comuns, são veículos de veneno. E os resíduos vão parar no lençol freático, afetando toda a comunidade.” Ao final, Martins defendeu a criação de uma comissão intermunicipal entre Canoas e municípios vizinhos como Esteio e Sapucaia do Sul. “Somos todos impactados. E Canoas, com seu peso político e industrial, pode liderar esse movimento.”

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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