A Polícia Civil de São Paulo concluiu, nesta sexta-feira (17), a segunda fase da operação que investiga os casos de intoxicação por metanol no estado e identificou o envolvimento de um núcleo familiar conhecido como “família do metanol”, liderado por Vanessa Maria da Silva. A mulher foi presa no dia 10 de outubro, quando a fábrica clandestina de bebidas controlada por seus familiares foi desmantelada no ABC paulista.
De acordo com as investigações, Vanessa, o marido, o pai e o cunhado — com apoio de outros colaboradores — foram diretamente responsáveis pela contaminação de pelo menos três pessoas. Duas delas, Ricardo Mira e Marcos Antônio Jorge Júnior, morreram após consumir bebidas adulteradas servidas no Torres Bar, localizado na Mooca, zona leste da capital.
O terceiro caso é o de um homem que ficou cego e permanece internado na UTI. Ele teria ingerido bebida contaminada em um bar chamado Nova Europa, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo.
Adulteração e cadeia de fornecimento
As investigações apontam que o grupo comprava etanol em dois postos de combustíveis — um em Santo André e outro em São Bernardo do Campo — para adulterar bebidas alcoólicas, como uísque, gin e vodca. Embora os estabelecimentos tenham sido investigados, a polícia ressaltou que eles não fazem parte da operação Carbono Oculto, conduzida pela Polícia Federal, que apura adulteração de combustíveis com metanol.
Ainda segundo a Polícia Civil, não há indícios de ligação com o crime organizado. O marido e o pai de Vanessa já possuem antecedentes por falsificação de bebidas, e as investigações indicam que o grupo contava com o auxílio de um garrafeiro, responsável por adquirir e distribuir o etanol utilizado na adulteração. Transferências bancárias confirmam a participação dele nas compras.
A operação cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados à família e ao garrafeiro, além de vistoriar pontos comerciais em São Bernardo do Campo, Mooca, Vila Mariana e Jardins, onde foram apreendidos insumos e mais de 40 garrafas de bebidas adulteradas.
Mortes e casos confirmados
Segundo dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-SP), até 15 de outubro foram registrados 90 casos de intoxicação por metanol no estado — 33 confirmados, 57 em investigação e 339 descartados.
As seis mortes confirmadas são de três homens (de 54, 46 e 45 anos) residentes na capital paulista, uma mulher de 30 anos de São Bernardo do Campo, um homem de 23 anos de Osasco e outro de 37 anos de Jundiaí.
No país, o Ministério da Saúde contabiliza 148 notificações, sendo 41 casos confirmados e 107 em apuração, com 469 notificações descartadas.
Responsabilização e defesa
A “família do metanol” nega ter conhecimento de que o etanol utilizado continha metanol. No entanto, o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian, afirmou que, ao adulterar bebidas com etanol de procedência desconhecida, os envolvidos “assumiram o risco de provocar mortes”.
Até o momento, Vanessa Maria da Silva é a única pessoa presa no âmbito da operação, que segue em andamento para apurar se o grupo também tem relação com outros casos de contaminação confirmados em São Paulo.