Queixa apresentada nos EUA aponta falha em interruptores de combustível como causa do desastre que matou 260 pessoas. FAA e peritos não confirmam essa teoria.

As famílias de quatro vítimas mortais do trágico acidente do voo AI171 da Air India, ocorrido a 12 de junho deste ano, avançaram com um processo judicial contra a Boeing e a Honeywell, alegando que a queda da aeronave foi provocada por falhas nos interruptores de corte de combustível. O acidente, que envolveu um Boeing 787 Dreamliner, causou a morte a 260 pessoas, incluindo 19 em solo. Apenas um passageiro sobreviveu.

A ação, interposta esta quarta-feira no Tribunal Superior do Delaware, acusa as duas fabricantes – a Boeing, construtora da aeronave, e a Honeywell, responsável pelos referidos componentes – de negligência, referindo que os interruptores estavam posicionados de forma a poderem ser acionados inadvertidamente durante a operação normal no cockpit.

Os queixosos, cidadãos da Índia e do Reino Unido, exigem indemnizações não especificadas pela morte de quatro passageiros: Kantaben Dhirubhai Paghadal, Naavya Chirag Paghadal, Kuberbhai Patel e Babiben Patel. O voo, com destino a Londres, despenhou-se segundos após descolar de Ahmedabad, na Índia.

Apesar da acusação, a Administração Federal da Aviação dos EUA (FAA) já declarou que os interruptores de combustível não aparentam ter estado na origem do acidente. Além disso, especialistas em segurança da aviação ouvidos pela agência Reuters afirmam que, devido à localização e ao design dos dispositivos, seria altamente improvável que fossem ativados acidentalmente.

Contudo, os advogados das famílias citam um boletim de segurança emitido pela FAA em 2018, o qual recomendava – embora sem caráter obrigatório – inspeções aos mecanismos de bloqueio desses interruptores em vários modelos Boeing, incluindo o 787. Segundo o relatório preliminar da investigação conduzida pelo Aircraft Accident Investigation Bureau da Índia (AAIB), a Air India não realizou essas inspeções recomendadas.

O mesmo relatório refere ainda que os módulos de controlo dos aceleradores, que integram os interruptores de combustível, foram substituídos em 2019 e novamente em 2023 na aeronave acidentada. No entanto, conclui também que todas as diretivas de aeronavegabilidade e boletins de serviço aplicáveis estavam em conformidade.

Um registo sonoro da cabine revelou que o comandante terá cortado manualmente o fornecimento de combustível aos motores, embora o contexto da ação ainda esteja sob investigação. Críticos do inquérito acusam as autoridades indianas de centrarem excessivamente a responsabilidade nos pilotos, desvalorizando possíveis falhas técnicas.

Este processo é o primeiro movido nos Estados Unidos relacionado com o acidente, e poderá abrir portas a mais ações judiciais em tribunais norte-americanos, considerados mais favoráveis aos queixosos do que muitos tribunais estrangeiros. Especialistas jurídicos apontam que os fabricantes, ao contrário das companhias aéreas, não estão sujeitos aos mesmos limites de responsabilidade.

Contactada, a Boeing recusou comentar o processo. A Honeywell não respondeu de imediato aos pedidos de esclarecimento.

Na bolsa, as ações da Boeing caíram ligeiramente 0,2% após a divulgação do processo. A Honeywell registou uma queda no início da sessão, mas recuperou, encerrando o dia com uma valorização de 0,3%.

A investigação final ao acidente do AI171 continua em curso.

By Daniel Wege

Consultor HAZOP Especializado em IA | 20+ Anos Transformando Riscos em Resultados | Experiência Global: PETROBRAS, SAIPEM e WALMART

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